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Uma premiação insensata

O presidente Jair Bolsonaro, antes de submeter o nome de seu filho Eduardo Bolsonaro à aprovação do Senado

Aristóteles Atheniense
Publicado em 14/08/2019 às 21:58Atualizado em 17/12/2022 às 23:25
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O presidente Jair Bolsonaro, antes de submeter o nome de seu filho Eduardo Bolsonaro à aprovação do Senado, formulou pedido diplomático ao governo dos Estados Unidos para que o “garoto” assuma a representação brasileira naquele país. 

Conforme ponderou o ex-embaixador Rubens Ricupero, na prática, Eduardo já atua como “chanceler informal”, estando agora em condições de assumir o cargo diplomático, embora esse desempenho deva ser institucionalizado – e não personalizado.

As principais democracias do mundo primam-se em indicar diplomatas de carreira e experientes para as embaixadas de maior vulto.

A amizade de Eduardo com os filhos de Donald Trump serviu de justificativa para o Presidente na sua nomeação. O posto mais importante do Itamaraty não pode ficar à mercê desse relacionamento, o que importaria em conferir à indicação um tratamento doméstico, incompatível com a seriedade que deva prevalecer em tais procedimentos.

A representação brasileira nos Estados Unidos foi inaugurada com Joaquim Nabuco e sempre contou com nomes de reconhecido valor, a exemplo de Oswaldo Aranha, Roberto Campos, Rubens Barbosa e dos mineiros Walther Moreira Salles e Paulo Tarso Flecha de Lima.

A tradição da Casa de Rio Branco não condescende com o critério instituído pelo atual Presidente, que importa em conferir ao filhotismo credenciais que não ostenta. O fato de Eduardo conhecer bem os Estados Unidos e saber se expressar em inglês também não constituem dados suficientes para o seu credenciamento.

Conforme anotou o colunista Ancelmo Gois, no jornal “O Globo”, Tancredo Neves, ante a solicitação de um cargo a ser ocupado por um correligionário que falava inglês, não reputou esse dado como valioso para a vaga existente, respondendo ao seu interlocutor: “Ora, meu caro, o porteiro do Copacabana Palace também fala inglês”.

A esta altura, já se cogita da nomeação de um filho de Trump para ser embaixador no Brasil, o que nos leva a admitir que ambas as nomeações importariam em reciprocidade de favores.

Inobstante as ponderações surgidas quanto ao descabimento da proposta, esta deverá vingar, embora o presidente da Câmara Alta não a considere como factível. O líder do governo, senador Fernando Bezerra, considera a aprovação como certa. Para que isto aconteça, será necessário que o candidato obtenha maioria simples tanto na Comissão de Relações Exteriores (10 dos 19), como no Plenário do Senado (41 dos 81).

Mesmo admitindo que a sugestão não sofra o veto do STF, consistindo em mais uma demonstração do jeito de ser e de governar de Jair Bolsonaro, o ineditismo da indicação de seu filho deverá ser pesado no processo de avaliação.

A não ser que se pretenda admitir que os interesses familiares possam se sobrepor aos do Estado, o que importará num sério e grave precedente. 

(*) Advogado, Conselheiro Nato da OAB e Diretor do IAB

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