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O Coringa na verdade nos traz grandes Charadas

Mônica Cecílio Rodrigues
Publicado em 24/11/2019 às 21:59Atualizado em 18/12/2022 às 02:11
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Não fiquem perguntando que ligação o título tem com o Direito de Família. Peço, com humildade que leia o texto que certamente entenderão. E caso não consiga despertar o elo, assistam o filme, por favor.

Não se fala em outra coisa do que na película sobre o vilão que desafia o herói de toda a nossa infância, aquele que povoou o imaginário infantil nas tardes televisivas e que salva Gotham City.

Pois bem, o filme retrata a Vida de um ser humano, que infelizmente, não teve a sorte de seus genitores exercerem corretamente o poder familiar, como os deveres de cuidado que a lei impõe, tais com assistência emocional, espiritual e material para a criança e para o adolescente, com zelo e carinho. Muito pelo contrário, sofreu agressões de toda ordem, desamparo e chegando até ao traumatismo craniano, o que seguramente o trouxe sequelas de ordem irreversíveis, como um riso descontrolado, que perdurou na Vida adulta.

E sua personalidade foi se formando, mesmo sem a total lembrança destes maus tratos, graças!! E cuida da mãe, pela qual demonstra afetuosidade e responsabilidade, apesar das agruras que sofreu durante a Vida adulta, até nas relações de emprego que tem para sobreviver.

Enfrenta a dura realidade destas sequelas e a brutalidade das pessoas quando deparadas com elas. Trata destas anomalias com os serviços porcamente oferecidos pelo governo e que será cortado porque ao Estado não interessa gastar com “isto”. Aí começa o seu desespero, o que fazer, sabe que precisa do tratamento e não tem a quem socorrer.

E a Vida não para, e o seu problema é contínuo e a sociedade é cruel com aqueles que precisam deste tipo ajuda.

Pois bem, meus caros leitores, o título utilizado realmente é uma brincadeira com os dois personagens inimigos do nosso herói – Coringa e o Charada, porque o filme é mesmo composto de vários enigmas para resolvermos, para alguns indecifráveis, para outros sedutores e para outros indiferentes.

E para os estudiosos do Direito de Família?

Que lição tirar de um filme que retrata um personagem maltratado na infância, com sequelas irreversíveis e que transforma uma cidade no pior lugar que possa exigir?

Longe de desejar instaurar qualquer polêmica sobre as consequências das sequelas dos maus-tratos na infância, mas devemos nos atentar para a importância de saber normatizar, como valor legal, o dever de cuidar dos filhos que todo genitor deve ter.

Caso o genitor não possa ou esteja impossibilitado de cuidar que esta criança seja entregue a alguém que o substitua ou que faça as suas vezes, pois deixar ao desabrigo ou quiça deixar até mesmo aos “cuidados” daquele genitor que não quer faze-lo seria expor o menor a um dano irreversível, o que seria no mínimo um delito.

Portanto, enquanto o Poder Judiciário justificar que não pode monetarizar ou colocar valor econômico no dever de cuidar de um filho, o filho que não receber carinho, afeto, atenção, que não for “tocado”, abraçado, sentido, mas apenas receber a assistência material, estará privado de sentir-se ser humano, de sentir cuidado!

Porque, por maior que seja o valor da pensão alimentícia paga uma hora é necessário o afago, o roçar de pele, o tocar no pai, o abraço da mãe, o calor do corpo, o sentir existente. E isto não tem nenhum valor econômico realmente que substitua. E já está provado, nos estudos psicológicos e pela teoria do apego, que o toque da pele é necessário para a sobrevivência humana.

Ah, quanto ao filme, prestem atenção, o Coringa não teve a sorte de uma Vida leve; e nosso herói também não. Pois viu, ainda criança, em um beco sombrio, seus pais serem assassinados brutalmente na sua frente, mas atentem-se: como cada um reagiu ao que lhe aconteceu!!!

Mônica Cecílio Rodrigues é advogada, doutora em processo civil pela PUC-SP e professora universitária.

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