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Provérbios

O povo arranjou um jeito de sintetizar conceitos e regras sociais e morais através de frases

Mário Salvador
Publicado em 27/01/2020 às 17:58Atualizado em 18/12/2022 às 03:49
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O povo arranjou um jeito de sintetizar conceitos e regras sociais e morais através de frases, que receberam o nome de provérbios. E eles já tiveram sua época áurea num tempo favorável a muita prosa com a família, vizinhos e amigos. 

Todos dominavam as máximas, que fazem parte do folclore, e delas se serviam oportunamente, sem as contestar. Os provérbios tinham tanto poder, que lhes coube a tarefa de concluir fábulas, contos alegóricos cheios de ensinamentos, em que os animais são personificados. Se fosse o caso de algum provérbio não coadunar com alguma situação, outro elucidaria o fenômen “Toda regra tem exceção.”

Quando ainda estavam longe de existir GPS, Waze, Google Earth, Google Maps e afins, chegava-se a qualquer lugar com uma artimanha infalível: “Quem tem boca vai a Roma”. Mas o ditado original é “quem tem boca vaia Roma” (Isto mesm vaia, do verbo vaiar.), mas o povo, senhor absoluto do folclore, popularizou a versão que preferiu.

O velho “lé com lé, cré com cré” é uma adaptação de outro ditado da Idade Média: “Leigos com leigos, clérigos com clérigos”: cada qual deve atuar na própria área. E nada impede que um filho opte por seguir os passos do pai, como sugere este provérbi “Filho de peixe, peixinho é.”

E se alguém não consegue ajudar a própria família com um trabalho do próprio ofício, é que “em casa de ferreiro, espeto é de pau”. Por outro lado, se não se tem sucesso ao fazer algo diferente da própria especialidade, cabe o ditado “cada macaco no seu galho”: melhor procurar alguém competente, que trabalhe de acordo.

E quando se faz depressa um serviço e se tem resultado ruim, fica claro que “a pressa é inimiga da perfeição”. Se, ao contrário, luta-se a valer e não se conquista vida melhor, fica certo que “quem nasceu para tostão nunca chega a mil réis”.

Nossa visão mais crítica hoje nos faz rever os provérbios e questionar essas “verdades”: são simples “sabedoria” popular; ideias antes tidas como indiscutíveis. Por isso, os provérbios não têm mais o mesmo valor nem são tão usados como antes.

“A pressa é inimiga da perfeição”, mas já fizemos tanta coisa de última hora que deu muito certo... Se “quem nasceu para tostão nunca chega a mil réis”, ninguém construiria sua fortuna a partir do zero, porém conhecemos inúmeros exemplos de quem teve essa sorte. E, se “filho de peixe peixinho é”, como explicar que os mesmos pais possam ter um filho trabalhador e outro preguiçoso? 

Seria estranho pensar que antes não se discordava dos provérbios? Nem tanto. Os provérbios têm sua graça, são geralmente curtos e alguns possuem rima, por isso se tornaram tão populares. E eles muitas vezes até... funcionam! Foi a evolução que fez com que sentíssemos necessidade de revê-los. E mais cedo ou mais tarde isso teria que ocorrer mesmo. E que bom que foi assim! “Antes tarde do que nunca”.

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