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Dia dos Pais

Domingo, 11 de agosto, festejando mais um Dia dos Pais, tive a felicidade de receber, num almoço festivo

Mário Salvador
Publicado em 12/08/2019 às 18:05Atualizado em 17/12/2022 às 23:20
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Domingo, 11 de agosto, festejando mais um Dia dos Pais, tive a felicidade de receber, num almoço festivo, genros e filho (todos papais), filhas, nora e netos. Mas não tive a alegria de ter comigo a presença física do meu saudoso pai, que, se ainda fosse vivo, teria muito mais de cem anos. 

Meu pai, João da Costa Salvador, nasceu em Portugal e veio ainda solteiro para o Brasil. Em Araguari, casou-se com minha mãe, Joaquina, e tiveram quatro filhos, dos quais eu sou o caçulinha temporão. Meu pai era carpinteiro e marceneiro, exímio mestre no manuseio de madeiras e nas contas com o número Pi, que ele sempre demonstrava aos netos. Assentava vigas e ripas para telhados e, também, portas e janelas. E fazia de tud roda d’água, canoa, balsa e todo tipo de móvel: guarda-roupa, armário, cama, mesa, cadeira, cadeira de balanço... Antes de ele ficar noivo, já havia feito todos os móveis do futuro lar, incluindo o guarda-roupa e o guarda-louça, enormes.

Viajava muito a serviço. Certa vez, ele aguardava o ônibus na rodoviária, num lugar com calçamento de pé de moleque. De repente, a roda de um ônibus que chegava ao local de embarque prensou uma pedra solta e a arremessou na perna direita de meu pai, provocando profunda lesão. Após esse acidente, a perna dele necessitou de curativo por toda a vida. E todo esbarrão naquela ferida causava sangramento. Eu, ainda menino, fazia-lhe os curativos. Felizmente, essa adversidade nunca o impediu de trabalhar.

Com as ondas do rádio chegando a Araguari, todo dia, às 18 horas, meu pai ouvia a Emissora de Lisboa, “serviço ultramarinho para todos os rincões da terra”. Quando tocava o Hino de Portugal, saíamos da sala, respeitando as lágrimas da saudade que meu velho pai sentia. Ele assoava o nariz e disfarçava: “Acho que estou resfriado.” Mas as lágrimas eram mesmo de pura saudade da terrinha.

Não se passava um dia sem ele falar sobre Portugal: Santuário de Fátima, Mosteiro dos Jerônimos, Torre de Belém, Ançã (sua terra natal) e a gastronomia, especialmente a bacalhoada, eram assuntos constantes. Certo dia, a tevê brasileira transmitiu ao vivo a peregrinação da imagem de Nossa Senhora de Fátima aqui no Brasil, mais exatamente, no Rio. A televisão era captada em Uberaba havia pouco. Vi meu paiHouve um dia em que e debruçado em frente ao aparelho, fascinado com a imagem da santa na telinha e soluçando de tremer o corpo todo. Recuei e deixei meu velho pai curtir as saudades de Portugal.

Mesmo manquitolando, meu pai fazia questão de andar muito. Já idoso, caminhava sempre, aqui em Uberaba, de nossa casa, no bairro Estados Unidos, ao cemitério. Se eu insistia em levá-lo de carro, ele recusava, justificand “Velho precisa andar.” E estava certo.

Ainda tenho comigo uma robusta cadeira-escada de madeira feita por meu pai. Com um movimento, a cadeira vira escada. Ele fez, também, um toquinho-desafio de cerca de vinte centímetros. As metades têm madeiras de tons diferentes (escuro e claro) e se encaixam como um quebra-cabeça. E ficamos sem saber como foi feita a peça.

Carmen e eu tivemos a alegria de, em Portugal, visitar, além de Ançã, quase todo lugar que meu pai citava. Com isso, realizamos uma profecia do meu pai, que, desde sempre, desejou que essa viagem nos fosse possível. E cada lugar nos deixou imensa saudade. 

Espiritualmente, meu pai permanece comigo, em especial, no Dia dos Pais, com o meu coração pulsando forte, com saudades dele. E com este texto homenageio meu pai e todos os pais, padrastos, mães que são mães e pais e todos os cuidadores que marcam profunda e positivamente a vida de seus filhos.

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