ARTICULISTAS

Estatística do Esquecimento

Estudiosos do comportamento humano às vezes nos surpreendem com ideias novas a respeito de velhos assuntos

Mário Salvador
Publicado em 29/07/2019 às 21:42Atualizado em 17/12/2022 às 22:58
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Estudiosos do comportamento humano às vezes nos surpreendem com ideias novas a respeito de velhos assuntos. Um grupo de pesquisadores, por exemplo, concluiu que, até o final da vida, cada pessoa acumula seis meses de esquecimento. E não se trata de lapsos de memória provocados por alguma doença, mas a pesquisa se refere a pequenos esquecimentos diários. 

Procurar os óculos, por exemplo, é unanimidade entre os distraídos. Em muitos casos, temos um insight (o famoso “já sei”) – intuímos onde eles estão. Mas aposto que muita gente já procurou pela casa os óculos que estavam no alto da própria cabeça, ou presos na própria blusa. Controle remoto, chaves, documento, livro, celular e carregador, caneta, guarda-chuva, blusa de frio... É inumerável o conjunto do que podemos escolher perder.

Às vezes, alguém, já no carro, pronto para o trabalho, lembra-se de algo de que precisa. E começa o cômputo do tempo que será perdid é preciso abrir o carro, descer, fechá-lo e trancá-lo (caso esteja fora da garagem); abrir a porta de casa, entrar, fechar a porta (às vezes, trancá-la), ir até o objeto (Sorte se já souber onde ele está.), pegá-lo e fazer toda a operação de volta ao carro.

E desperdiçamos muito tempo de nossa curta vida caçando objetos que temos que achar a qualquer custo. Se temos a sorte de reaver logo esse objeto, o tempo a ser contado na estatística do esquecimento é modesto. Mas há coisas que desaparecem como que por encanto. E, às vezes, nos resignamos com a ideia de não as encontrar! E depois de desistirmos, de repente achamos o objeto. E bem à nossa frente, num lugar óbvio! Ah, nem!

Pois é! A soma dos minutos que perdemos nessa busca é de seis meses de vida jogados fora! E cá estamos – eu, consumindo meu tempo ao escrever este texto, e você, leitor, ao ler, mas agora já conscientes desse gasto na vida, o que nos deixa ainda mais irritados com esse serviço ingrato, não remunerado e obrigatório, que assumimos em prol de nós mesmos, pela falta de memória.

E olhe que nem se computaram nesse tempo os esquecimentos como quando acintosamente nos foge o nome do amigo com quem acabamos de nos encontrar (o que nos obriga a subterfúgios, como usar o pronome de tratamento “você”). Pior é que todos gostam de ouvir o próprio nome, acredite! 

Irônico é que há quem seja tão organizado e centrado, que nunca esquece nada em nenhum lugar. Fica a dúvida: Será que os seis meses que lhe caberiam de esquecimento vão para a conta de outros? Se esse tempo está vindo para a minha, sinceramente, agradeço, mas dispenso. Sério mesmo!

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