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O Santo Casamenteiro

Olga Maria Frange de Oliveira
Publicado em 20/06/2022 às 10:23Atualizado em 18/12/2022 às 22:12
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Junho é o mês dedicado às festas juninas, tão do agrado do povo brasileiro. Santo Antônio é o primeiro dos santos comemorados neste mês: dia 13, Santo Antônio; dia 24, São João; dia 29, São Pedro e São Paulo. O dia 13 de junho assinala a data da morte de Santo Antônio.

As festas juninas são uma tradição portuguesa trazida para o Brasil pelos colonizadores, que caiu no agrado popular e ganhou características próprias, graças ao jeitinho brasileiro.

Conhecido como o santo casamenteiro, influenciou para que o “Dia dos Namorados” fosse instituído no dia 12 de junho, véspera do dia dedicado a Santo Antônio. As devotas deste santo que desejam se casar ou, pelo menos, conseguir um namorado, costumam preparar um sem-número de simpatias acompanhadas de poderosas orações nesta data tão especial. Eu mesma tenho muito a agradecer a este santo, pois, há dezoito anos, ganhei um pedaço do “bolo de Santo Antônio”, feito pelas devotas da igreja de Nossa de Senhora de Fátima, na Praça Carlos Gomes. Foi minha prima Mariza Cury, dona de um conceituado buffet, que mandou entregar o bolo gentilmente em minha casa. Junto ao inusitado presente, ela anexou um bilhete, orientando que eu partisse o bolo junto com meu noivo, Milton de Paula Lopes, no lanche da tarde. Se dentro do bolo encontrasse uma miniatura de Santo Antônio, era sinal de que o santo abençoava nossa união. Dito e feito, o casório não demorou a acontecer, pois partimos o bolo em cima da imagem e, conforme a orientação, fomos à igreja para trocar a miniatura por uma pequena estatueta benta de Santo Antônio, que ocupa um cantinho especial em nosso lar. Iniciar a vida de casada sob a bênção desse santo milagroso não é para qualquer um não!!!

Santo Antônio nasceu em 15 de agosto de 1195, em Lisboa, numa casa próxima à Sé, onde hoje existe a igreja de Santo Antônio da Sé, que se tornou seu Santuário e abriga o Museu Antoniano. Eram seus pais Martin de Bulhões e Tereza Taveira, ambos de estirpe nobre, sendo seu pai oficial do senado de Lisboa. Nascido Fernando de Bulhões, passou a se denominar Frei Antônio quando ingressou na Ordem Franciscana, após ter passado pela Ordem Agostiniana.

Conhecido em Portugal como Santo Antônio de Lisboa, também é “disputado” pela cidade de Pádua, na Itália, onde morreu em 13 de junho de 1231, aos 36 anos de idade. Os restos mortais de Santo Antônio estão, desde 1263, na Basílica de Pádua, daí ser também conhecido como Santo Antônio de Pádua. Os onze meses passados entre a morte e a canonização do santo pelo papa Gregório IX são, até hoje, recorde na Igreja Católica, graças à fama de santidade que sempre cercou o monge ao longo de toda a sua vida. Segundo consta, chegou a ter problemas para se locomover, pois tinha as rótulas gastas pelo hábito de permanecer longas horas de joelhos, em oração.

Santo Antônio compartilha algo em comum com Santa Rita de Cássia: o corpo incorrupto, isto é, que sobrevive praticamente intacto à decomposição pós-morte. Enquanto a santa teve todo o corpo imune às ações do tempo, o santo português teve a língua conservada. Após a morte, quando exumaram o corpo para a canonização, descobriram que a língua se encontrava incorrupta. São Boaventura, que estava presente no ato da exumação, disse que o milagre era a prova cabal de que a pregação de Santo Antônio era realmente inspirada por Deus. A fama de Santo Antônio como pregador transcende a vida do religioso português, levando a cúpula da Igreja Católica a lhe conceder o título de “Doutor da Igreja”, em 1946, no papado de Pio XII.

Tive oportunidade de conhecer a Basílica de Santo Antônio de Pádua ao lado de minha irmã, Mirtes, e meu saudoso cunhado, Sérgio Ferreira Pinheiro, no final dos anos oitenta do século passado. Trata-se de um edifício gigantesco de estilo eclético, com predomínio de elementos românicos, góticos e bizantinos. Na Capela das Relíquias está exposto o Relicário em ouro, contendo a língua de Santo Antônio. Seu corpo encontra-se na Capela da Tumba, no interior da igreja. A Basílica de Santo Antônio de Pádua, administrada pelos Frades Franciscanos Conventuais, é meta de contínuas peregrinações. Todos os anos, ela acolhe milhares de católicos de todo o mundo que estão em busca de um momento privilegiado do espírito, por meio da oração e reflexão, nesse ambiente de recolhimento impregnado de fé.

Santo Antônio foi contemporâneo de São Francisco de Assis. Ambos trocaram correspondência entre 1223 e 1224, na qual Francisco convidou Antônio a assumir o cargo de professor da Ordem Franciscana, colaborando na instrução de novos religiosos, uma vez que este tinha formação avançada em teologia.

A iconografia é uma bela e significativa expressão da religiosidade popular. Na verdade, por uma leitura correta dos símbolos de uma imagem, podemos estabelecer alguns traços da biografia de um santo. Eis os símbolos que são comuns às representações de Santo Antôni o hábito franciscano – indicando que ele pertenceu à Ordem fundada por São Francisco de Assis; o livro – representa o Evangelho e lembra o pregador que arrebatava multidões; o Menino Jesus, que, em geral, aparece sobre o livro que o santo tem na mão e evoca a característica de Santo Antônio como pregador do Verbo encarnado; o Lírio, também conhecido por açucena – que é a flor da estação na qual Antônio morreu e representa a pureza, na entrega do coração virginal a Deus; a Cruz na mão indica o espírito missionário do santo e o seu desejo de se tornar mártir pela fé.

Que Santo Antônio abençoe nossos lares durante todo este mês de junho!

Que o sagrado e o profano se unam para tornar nossos sonhos possíveis!

Olga Maria Frange de Oliveira

Autora do livro “Pioneiros da História da Música em Uberaba”; ex-diretora geral da Fundação Cultural de Uberaba; ocupa a cadeira nº 15 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

 

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