ARTICULISTAS

Uma coragem que a gente nem sabe que tem

Olga Maria Frange de Oliveira
Publicado em 08/03/2021 às 20:30Atualizado em 18/12/2022 às 12:41
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Há uma descrença entre as pessoas. Há uma desesperança medrosa no ar. Há um sobressalto permanente. Um visível temor de que não haja mesmo remédio, depois que o céu se turvou e as estrelas perderam o brilho. Há um pesadelo que pode ser pressentido, e o desespero se alastra no meio na sociedade como um todo. Há, isto sim, uma incomensurável tristeza no país e no mundo. Um véu de melancolia encobre a dor que assola a humanidade.

Já faz um ano que estamos convivendo com uma pandemia que virou nossas vidas de cabeça para baixo. Estamos enfurnados em nossas próprias casas, sem coragem de encarar o que se passa do lado de fora. Andamos nas ruas com passos apressados, como autômatos, sem coragem de olhar nos olhos das pessoas que passam por nós, sem enxergar as belezas que nos cercam. Queremos apenas fazer o que nos propomos ao sair de casa e retornar o mais breve possível ao nosso lar. Não há tempo para um sorriso nem para uma amigável conversa com algum conhecido. O medo de estar indo ao encontro do inimigo invisível é mais forte do que tudo e nos paralisa.

Meu Deus, o que mais queremos é dar a volta por cima, retomar a nossa vida, repleta de pequenos e grandes problemas, mas deliciosamente livres. Ter o mundo em nossas mãos e a liberdade de ir e vir. Como disse Fabricio Carpinejar, “É no fundo do poço que encontramos a nossa humildade, as pedras mais bonitas, as palavras mais corajosas”.

De todo esse período de crise sairemos mais fortes, mais determinados e nos conhecendo um pouco mais. Teremos aprendido que para cada canto iluminado dentro de nós há uma sombra. Precisamos lutar com nossos demônios internos para nos conhecermos melhor e, para isso, não podemos perder a capacidade de discernir nossas contradições. Dessa forma, poderemos utilizar esse momento de crise para fazermos uma reforma íntima que nos levará a um “renascimento” para uma vida infinitamente melhor. E isto só será possível se conhecermos a essência de nós mesmos, pois a maior parte de nossa verdadeira personalidade é por nós desconhecida. Tudo indica que esse é um tempo de reflexão, que nos levará à eliminação de parte do fardo que nos impusemos, agregando valores que se revelaram irrelevantes e perfeitamente descartáveis. Para enveredar por novos caminhos, será preciso uma reforma íntima e uma coragem que a gente nem sabe que tem. Mas ela está lá dentro de nós, num cantinho desconhecido, esperando ser encontrada. Por que não tentar? Não será por falta de tempo! Que tal nos lembrarmos que “Tudo de mal que nos acontece é para o nosso bem”.

Retiremos do nosso pensamento o medo da pandemia. Não há como ser feliz sob uma pressão constante. Não sofrer de modo desnecessário é uma forma de respeitar quem está realmente sofrendo. Sofrer por antecipação é perda de tempo e não deixa de ser uma supervalorização do ego por vitimização. E nunca, em hipótese alguma, deveremos esquecer que nem sempre caminhamos com as nossas pernas, pois em alguns trechos do percurso somos carregados.

Alguém já disse, com muita sabedoria, “Se não posso ir para fora, caminho para dentro de mim”. Estamos no meio de uma tempestade, mas logo as nuvens passarão e o céu voltará a brilhar. Precisamos manter a serenidade em meio ao mar agitado.

Não há nada no mundo das formas que permaneça sempre igual, pois tudo se modifica e degenera. Ao degenerar, abre-se a possibilidade do “renascimento”. Quando não podemos solucionar os nossos problemas, devemos nos afastar deles até nos sentirmos mais fortes para traçar uma estratégia de enfrentamento. Nunca estaremos totalmente sozinhos, Deus sempre estará ao nosso lado.

Olga Maria Frange de Oliveira - Professora de piano, regente do Coral Artístico Uberabense, autora do livro “Pioneiros da História da Música em Uberaba” e ex-Diretora Geral da Fundação Cultural de Uberaba

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