ARTICULISTAS

Ormeno Gomes, um compositor de méritos

Olga Maria Frange de Oliveira
Publicado em 29/10/2020 às 19:14Atualizado em 18/12/2022 às 10:40
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Ormeno Gomes Henking, filho de D. Joaquina Gomes e Emílio Antônio Henking, residiu em Uberaba de 1904 a julho de 1907. Ormeno era neto de Manuel Gomes, o patriarca da família Gomes, filho da irmã de Carlos Gomes e sobrinho deste notável musicista campineiro que se tornou o maior compositor sul-americano de óperas do século XIX.

Sua mãe, Joaquina Gomes, pianista e cantora lírica, era a filha mais velha da quarta união de Manuel José Gomes, o Maneco Músico, cuja descendência teve uma importância indiscutível na História da Música em Campinas. Os dois filhos do terceiro casamento, Carlos Gomes (Tonico) e José Pedro de Sant’Anna Gomes (Juca) foram os mais famosos das três gerações de músicos da família Gomes.

Seu pai, era de origem austríaca, natural de Viena, e atuou em Campinas como professor de música, aritmética e alemão, em colégios particulares de excelente reputação. Emílio tocava cítara, instrumento de cordas dedilhadas ou tocado com o auxílio de um plectro, derivado da lira.

Ormeno nasceu por volta de 1875, em Campinas, e tornou-se um dos herdeiros do talento musical da família Gomes e do universo artístico campineiro, especializando-se no ofício de compositor. Era também um bom pianista e respeitado maestro.

Quando sua mãe passou a residir em Uberaba, já viúva, vieram com ela os dois filhos, Ormeno e Vera. Estávamos no início do ano de 1904. O jovem músico contava cerca de 30 anos de idade e logo se entrosou com a classe artística local, chegando a fornecer várias composições para as orquestras e bandas uberabenses. Como compositor, dedicou-se mais à música ligeira, escritas nos gêneros da época: improvisos, melodias, valsas, xotes, gavotas, tangos, mazurcas, polcas e passo-doble.

Em 4 de setembro de 1904, estreou sua gavota “Irene”, no salão nobre da Câmara Municipal de Uberaba, num concerto organizado pelo maestro Eduardo Bourdot. Neste concerto tomaram parte sua mãe e sua irmã, além de músicos atuantes no cenário musical uberabense, como as irmãs Meirelles (Filhinha, Rolinha e Poupée), Honorina Machado e Carlos Machado. Essa peça foi escrita para piano, flauta, violino, violoncelo e bandolim. A partir daí, outras composições suas passaram a integrar os programas das retretas realizadas no Jardim Público e das orquestras que tocavam nas confeitarias locais, sob a regência de Abdias Ribeiro dos Santos, Eloy Bernardes Ferreira ou Carlos Maria do Nascimento, com “Quebra, moleque”, tango de 1904; “Campana”, valsa de 1906; “Graciosa”, gavota de 1907; “Pachola”, tango; “Faceira”, xote, dedicado a Edith Terra, filha do Coronel Manuel Terra, de 1906; “Paulistana”, valsa dedicada a Rolinha Meirelles, de 1906; “Rêve du passé”, valsa expressiva dedicada ao amigo Carlos B. Machado, de 1906; “Campos Salles” passo-doble de 1906; e “Diva Caldeira”, valsa expressiva dedicada à srta. Sylvia Rosa, de Uberaba, escrita em 1907.

O maestro Renato Frateschi dedicou a Ormeno Gomes sua sinfonia intitulada “Homenagem a Carlos Gomes” cuja estreia ocorreu em retreta da banda União Uberabense no Jardim Público de Uberaba, em 21 de outubro de 1906, com grande presença de público.

De Uberaba, a família seguiu para Ribeirão Preto, onde Joaquina permaneceu até o fim de sua vida, em 27 de abril de 1939. Em Ribeirão Preto, Ormeno Gomes assumiu a regência da orquestra do Bijou Theatre, o elegante teatrinho da Praça XV, à frente de um excelente conjunto instrumental formado por dez dos melhores músicos em atuação nos palcos ribeirão-pretanos, inclusive o violinista José Cicalla, que morou alguns anos em Uberaba.  Permaneceu como maestro do Bijou-Theatre por três anos, de 1909 a 1911, com referências elogiosas ao seu trabalho na imprensa local. Com o fechamento do teatro, o músico resolveu partir, em 1912, para Firenze, na Itália, onde buscou aperfeiçoar-se no campo da composição e instrumentação. Chegou a editar algumas obras em Firenze, com a mazurca “Ghilda”, op. 131, com dedicatória para sua tia Anna Luiza Gomes, irmã caçula de sua mãe, também musicista; a valsa lenta “Matelda”, op. 140, dedicada às senhoritas Matelda e Federica Fellini, editada em 1913; a Gavota nº 5, que ele dedicou à princesa Mafalda de Saboia (1902-1944), segunda filha do rei Vitor Emanuel III, da Itália, e de Helena de Montenegro, de quem ela herdou seu amor à música e às artes, em geral.

Grande parte de sua produção foi editada em São Paulo, na Casa Luís Levy & Irmão, ou no Rio de Janeiro. Na capital do país, pertenceu à Associação Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), responsável pelos direitos autorais dos associados.

Ormeno Gomes faleceu no Rio de Janeiro em 25 de setembro de 1928, após contrair uma doença incurável que o deixou inválido desde o final da segunda década do século XX. Foi homenageado pela Câmara Municipal de sua cidade natal, que deu seu nome a uma rua no Jardim São Pedro, em Campinas.

Olga Maria Frange de Oliveira - Professora de piano, regente do Coral Artístico Uberabense, autora do livro “Pioneiros da História da Música em Uberaba” e ex-Diretora Geral da Fundação Cultural de Uberaba.

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