ARTICULISTAS

Romeo e Giulietta

Em setembro do ano passado escrevi uma crônica intitulada O atentado e o resgate de um gênio

Olga Maria Frange de Oliveira
Publicado em 28/11/2019 às 19:47Atualizado em 18/12/2022 às 02:22
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Em setembro do ano passado escrevi uma crônica intitulada “O atentado e o resgate de um gênio”, tendo como tema a vida da violinista italiana Giulietta Dionesi. Uma história de vida trágica e emocionante. Giulietta veio para o Brasil em 1889, aos onze anos de idade, ao lado de seu irmão, o notável pianista Romeo Dionesi. 

Os dois irmãos vieram para o nosso país após a morte da mãe, fugindo de um pai autoritário, que explorava o talento dos filhos de forma mercenária. Para que pudessem custear as despesas da longa viagem, realizaram uma breve turnê por cidades da Espanha (Barcelona e Valência) e Portugal (Porto, Lisboa e Coimbra), arrebatando o público e a crítica.

Chegaram ao Brasil em meados de 1889, precedidos de enorme prestígio, pelos ecos dos triunfos colhidos na Europa. Quis o destino que os irmãos permanecessem juntos por um período muito curto, pois o interesse despertado no público por Giulietta, violinista prodígio de apenas 11 anos, eclipsava, por assim dizer, o fulgurante talento do jovem pianista, então com 21 anos de idade. No Rio de Janeiro, a pequena violinista foi denominada “Deusa do Violino”. Os seis concertos dados de 15 de julho a 15 de agosto de 1889 foi uma série de clamorosos sucessos, sendo que o primeiro deles contou com a presença do Imperador D. Pedro II, acompanhado da Imperatriz e da Princesa Isabel.

Em 1890, quando os irmãos se apresentaram juntos pela última vez em Campinas (SP), Romeo decide retornar sozinho para o Rio de Janeiro, deixando sua irmã sob a responsabilidade do maestro, pianista e empresário Emílio Grossoni.

Poucos anos depois, Romeo teve que sair do Rio às pressas, fugindo de uma amante inconveniente, de nome Adalgisa, que o assediava acintosamente, não lhe dando trégua. Tomou a decisão de maneira intempestiva e acabou deixando para trás um baú repleto de composições musicais, que nunca mais foram recuperadas. Ele acabou seguindo para Pernambuco, onde se fixou e construiu uma bem- sucedida carreira musical.

Assim que chegou a Recife, graças à sua excelente formação foi contratado pelo Instituto de Música Pernambucano como professor, sendo que em 1903 já assumia o cargo de diretor do renomado estabelecimento. Dois anos depois, conquistou também o posto de regente da Banda de Música do 40º Batalhão de Infantaria, que se apresentava regularmente na Praça da República, diante do Palácio do Campo das Princesas, sede administrativa do governo estadual em Recife.

Sua produção musical teve início ainda na Itália, quando escreveu “D’Artagnan”, ópera cômica em quatro atos. Essa ópera foi estreada no Politeama da cidade de Gênova, com sucesso, e chegou a ser apresentada também em Buenos Aires. Escreveu inúmeras obras para piano, orquestra e composições para conjuntos de câmara com diferentes formações. Dedicou-se, majoritariamente, à produção de música erudita com influência do estilo moderno, com suas dissonâncias e harmonias mais ousadas, sendo classificado como um compositor progressista.

O jornal pernambucano “Gazeta Artística”, de julho de 1911, traz a nota de seu falecimento, ocorrido em 30 de junho deste mesmo ano, nos seguintes termos: “É com profundo pesar que registramos o passamento do cav. Romeo Dionesi, notável compositor e pianista, que a morte roubou prematuramente, aos 43 anos de idade. O conceituado músico nasceu em Gênova, em 1868. Era diplomado em composição e piano pelo Conservatório de Nápoles. A produção do maestro Dionesi é daquelas que não temem os estragos do tempo ou os caprichos da moda. O caráter elevado da sua música nada deixa a desejar ao que de melhor se tem produzido nos últimos 20 anos”.

Giulietta morreu em 2 de novembro de 1911, aos 33 anos, pouco mais de quatro meses após a morte do irmão.

Dia 7 de dezembro próximo, alguns alunos farão uma homenagem ao compositor Romeo Dionesi no final da audição intitulada “Páginas Inesquecíveis”, que será realizada no Centro Cultural Cecília Palmério, às 15h30. Constam do programa: “Berceuse” (para violino e piano), interpretada por Marvile Palis Costa Oliveira e Alessandra Beatriz Carneiro Gonçalves Alves; “Scherzo em Ré M”, tendo ao piano Paulo Henrique Souza de Almeida; e a polca brasileira “Assim não me serve...”, pelas mãos da pianista Maria Cristina Schroden de Paula, uberabense radicada em Campo Grande. As peças foram encaminhadas às minhas mãos pela bisneta de Giulietta, Maria Lúcia Lopes, residente em Pindamonhangaba (SP). Uma oportunidade ímpar para conhecer um pouco da obra deste músico que adotou o Brasil como sua nova pátria. 

(*) Pianista, professora, maestrina, regente do Coral Artístico Uberabense, pesquisadora da História da Música em Uberaba e ex-diretora-geral da Fundação Cultural de Uberaba

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