ARTICULISTAS

Cabelos louros, negros e brancos

Arahilda Gomes Alves
Publicado em 07/05/2022 às 18:19Atualizado em 18/12/2022 às 22:51
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Quando se é jovem, é vista como a eterna mulher que não sairá, jamais, do nosso convívio, gerando frutos-filhos que engatinham, crescem e, também, “amadurecerão”. Quando se é “madura”, percebe-se que os cabelos se mesclam de branco nunca tingidos, rosto marcado, mãos manchadas pelos sinais do tempo, voz frágil, porque cansada de tantos conselhos dados, olhos embaçados escrutinando perspectivas de sonhos e luzes fugidias.

Lembrar a mãe da gente provoca infinita ternura pelas saudades geradas hoje e inesquecíveis, amanhã. Eternamente infantis, quando nos ouvia dizer, pela primeira vez, o nome doce e santo – Mamãe. Depois, as mãos firmes, ajudando na dignificação de traços consanguíneos, que a genética poderosa espalha em doses familiares e gigantes.

Deixar o pensamento correr nas asas de um sonho eternamente infantil a nos ouvir dizer, pela primeira vez, o nome doce e santo – Mamãe. Depois, as mãos firmes ensinando-nos a soletrar e a escrever nosso nome.

Quantos aniversários festejados, lembrando acontecimento importante a cada um dos filhos, vitória de mais um ano vivido alegremente. Fitas brilhantes penduradas do teto às pontas da grande mesa, as balas enroladas em multicoloridos papéis de seda, lembranças de uma infância feliz e saudável.

As visões de um passado remoto misturam-se ao crepitar de gravetos em fogão de lenha, diluindo grãos, assando em fornos de tijolos, pães caseiros que o tempo não prescreveu.

– Não ponha a mão aí, menina, está quente ainda e vai se queimar!

Mãe, a nos levar no impossível do tempo mais que perfeito, capaz de fantásticas visões familiares, severas, a nos ensinar a convivência sadia com irmãos, a obrigatoriedade das tarefas escolares, os compromissos sociais e o respeito às gerações vindouras.

Mãe – sou um pedaço de você, das muitas lutas e de suas vitórias, pedaços de sonhos e de muitas fantasias. Guardo o frescor de sua juventude, sua voz nos embalos dos acalantos e das muitas noites de vigília.

A casa pequena, alojamento de parentes e que sempre acolhia a todos. No quintal, canteiro de hortaliças, uvas verdes proibidas de tocar enquanto não amadurecessem, ovos colhidos nos ninhos e o cachorro vira-latas focinhando restos de comida.

As cantorias presentes na hora do banho e do sono chegante embalados pelas canções de ninar e da “ladainha” em coro sonante e polifônic a bênção, mamãe; a bênção, papai; a bênção, Jesus!

– Durmam bem, meus filhos!

O céu, de azul lindo e diferente, porque celestial visto na transparência do cortinado a dançar ao vento leve, aragem carregando mais um sonho – o do sono reparador, energizando estradas de novo caminhar, um dia, sem a Mãe da gente!

Arahilda Gomes Alves

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