ARTICULISTAS

Cantilena n° 5 de Villa-Lobos

Arahilda Gomes Alves
Publicado em 31/03/2022 às 19:20Atualizado em 18/12/2022 às 23:15
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Pelo título, vê-se que se trata de uma composição lírica, cantada por sopranos e difícil ser executada por cantora popular.

Desfolhando ainda o livro “As Divas do Rádio” e alertada por colega que se interessou em conhecer as fases não só brilhantes, mas melancólicas dessas artistas, porque, psicóloga, resolvi mostrar neste espaço este conto de um ideal buscado a cada tropeço, porque o que conseguimos vem baseado em pedras desviadas ou retalhadas pelos muitos campos percorridos. Cantora que recebeu adjetivos de “A enluarada”, “a Divina”, e constrangida pelo último codinome, confessando-se que Sara Vaughan lhe disse: “não abdique dele, foi uma conquista sua”.

Fez sucesso com grande afeto cantando “Boneca de Piche” e teve que sustentar a família com o falecimento de seu pai. Evaldo Rui, irmão de Harold Barbosa, aquele com que se pretendera casar-se, suicida-se sem explicar os motivos. Namoradeira, interpretou músicas de Tom Jobim e Vinícius, clássicos da bossa nova, que não a deixava tão à vontade. Quando o maestro lhe solicitou cantar “Bachianas n.° 5”, de Villa-Lobos, levou um susto, e dias depois a cantou no Teatro Municipal de São Paulo, sendo ovacionada por 15 minutos, de pé, aos gritos de bravo e bis!

Trajetória de sucessos, mas vida amorosa marcada pela infelicidade. Com câncer e passando por duas cirurgias, quase um infarto a leva, vindo a morrer em maio de 1990.

Quem não se lembra de “Carinhoso”, “Feitio de Oração”?

Se a Rádio Nacional marcou o tempo áureo das divas do rádio e decaiu quando o movimento militar a denunciou através de César de Alencar, eles se instalaram no Cassino da Urca e, com o tempo, alojaram-se na “platinada”, com passagens efêmeras: a política, percebe-se, nunca sucumbe à arte porque esta é uma forma de expressão cultural. Não a influenciaram de forma latente porque a ciência é vinculada à ética e à liberdade de uma nação.

Ouçamos a cantilena que dá nome ao texto. A primeira parte canta-se vocalizada, sendo que a segunda traz a mensagem através do canto dado, visto que a cada uma delas Villa-Lobos endereçou um instrumento.

“Vislumbra a tarde qual uma nuvem branca e transparente no entardecer refletindo a luz da lua como se fora meiga donzela sonhadora. A natureza se agiganta e a passarada canta seus queixumes, até que a lua desperte na cruel saudade que ri e chora!”

Como Elizeth Cardoso a cantou, traz a curiosidade de uma peça interpretada “à la Elizeth”, aplaudida de pé por longos minutos. Imaginemos sua interpretação trazendo-nos misto de curiosidade ao compositor e à intérprete.

Arahilda Gomes

 

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