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Chato

Ricardo Motta
Publicado em 05/11/2021 às 19:02Atualizado em 19/12/2022 às 01:14
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Ouviu do pai que Fulano era até bom caráter, mas era daqueles chatos carimbados, de carteirinha, que dá alergia, desmancha roda, dá chulé em pé de mesa... por fim, a exclamação, que o pior era que chato não desconfia. A ojeriza do pai foi tão grande que o estimulou a observar sinais de chatice para detectar chatos e deles se esquivar. Além disso, teve muito medo de se tornar o próprio chato. Não demorou notar que em toda aglomeração havia pelo menos um chato, ao ponto que, quando não percebia nenhum chato no conjunto, tinha ânsia de se afastar, temendo fosse o chato da vez! Quando identificava um chato, logo dava um jeito de pedir licença para ir ao banheiro e não voltava à roda, era seu recurso.

O problema era que, às vezes, o embate era individual. Suportou situação inusitada de um superchato o acompanhar ao banheiro coletivo. Afinal, chato é chato, não larga fácil do pé, é literalmente sem noção. Esse era um chato renomado! Daqueles que não adianta fingir dormir em viagem quando se senta ao seu lado. Cutuca, puxa assunto, faz consulta, investiga sobre tudo da sua vida. Aliás, especulação é uma marca assinalada dos chatos. Por brincadeira, passou a classificar os típicos chatos.

Donos da verdade, das piadinhas ridículas, os pegajosos, bajuladores, os da conversa que nunca acaba, os explicadinhos. O chato bêbado é dose. Há filósofo, o melhor em tudo, o esnobe, o metido a rico, o frase feita, o egocêntrico, o da visita demorada, o vítima chorão, o pidão, o que se diz íntimo, o pessimista prenunciador de desgraça, o engraçadinho, o mimado, que tudo exige ser ao seu gosto, o mestre, o sabe tudo, o conselheiro, o teimoso, o exigente de exclusiva atenção, o estraga festa de família, o pregador, que nem santo aguenta, dentre inúmeros outros. Distinguiu a perigosa classe dos simpáticos da primeira meia hora para conquistar aproximação, mas, ardilosos, depois são só chatice.

Chato não tem lado. Cerca, invade, insiste, procura, incide, reclama de tudo, cobra afeto. A experiência sugere que, fazendo reunião, convide um chato oficial, dos mais amenos, já que sempre um haverá. Afinal, embora minoria, surgem por toda parte. Muita gente se torna chato eventual pelo efeito do álcool. Todavia, se ficar bebendo sempre e além, acaba obtendo carteirinha do clube do chato, sem precisar de pagar pela quota. Inclusão por mero comportamento. Duro mesmo é a vida de quem convive com um chato dentro de casa! Então, cuidado. É sempre bom estar alerta, até para não se tornar um deles!

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