Saímos de Uberaba há uns bons anos. A nostalgia é inevitável e quem vive fora do lugar em que nasceu e cresceu, sabe muito bem disso. Agora levamos a vida em outras cidades (e até outros países), mas sempre que a rotina permite, voltamos para rever os familiares e os amigos.
Nessas ocasiões há momentos que chamam um sorriso espontâne o Japão e a simpatia de sempre, o Tabu e seus inigualáveis filés, a conversa gostosa e o chope no bar da praça da Concha Acústica. Mas às vezes, bem lá no fundinho, há também uma certa tristeza. Uberaba não é a mesma cidade em que crescemos: foram derrubadas várias casas de valor histórico (pelo menos para nós). O Munchen não existe mais. E o Uberabão deixou de ser um bom programa para pais e filhos nos domingos à tarde.
Mas a grande decepção vem mesmo é do destino do Colégio Dr. José Ferreira. Somos ex-alunos da escola, ainda da época do “primário”, “ginásio” e “colegial” (os leitores mais velhos vão se lembrar desses termos). Alguns de nós contamos com 13 anos de Zezão no currículo. Muitos nunca estudaram em outro lugar (diga-se de passagem, vários como bolsistas ao longo de todo esse tempo).
Devemos muito a essa instituição de ensino. Ela foi a base para a nossa formação como cidadãos, mostrou a importância da vontade de aprender, da formação do caráter, do respeito ao próximo, da igualdade social e da criação de oportunidades para todos – coisas raras nos tempos atuais. E nos permitiu ingressar em boas universidades e desenvolver uma vida profissional pautada por essa formação, trazida dos primeiros anos da vida escolar.
Pelas notícias que chegam, as próximas gerações de uberabenses correm o risco de não usufruir dessas mesmas oportunidades. Agora o “Zezão” tomou um outro rumo, nem um pouco comprometido com esse histórico. Ninguém o reconhece. Se continuar assim, será tirada dos pais e mães de hoje a possibilidade de entregar os filhos e filhas para a mesma escola onde estudaram, seguros de que terão uma formação no mínimo equivalente àquela de tempos atrás.
Uberaba não pode se conformar com isso. A cidade precisa abraçar a escola, não deve abandonar pelo caminho uma de suas mais importantes instituições, responsável pela ótima qualidade da educação de milhares de uberabenses.
Por décadas o “Zezão” teve uma gestão pautada por referências valiosas e necessárias a uma instituição de ensino. Como alunos antigos, tivemos o privilégio de usufruir disso. Sem descolar de seus valores fundamentais, a administração da escola sempre esteve à frente de seu tempo. Não vamos cansar o leitor enumerando os muitos feitos da administração, dos professores e dos funcionários do José Ferreira ao longo de todas essas décadas. Quem lá estudou, trabalhou ou confiou ao Colégio a educação de seus filhos, é testemunha de muitos deles.
Somos eterna e infinitamente gratos a essas pessoas, algo que nunca poderemos pagar, mas que talvez estas poucas palavras possam de algum modo resgatar parte da nossa dívida de gratidão com a instituição e com as pessoas que a construíram. Brecht disse que os homens que lutam toda a vida são aqueles que podemos chamar de imprescindíveis. Aqueles que construíram o José Ferreira certamente pertencem a esse grupo.
Os tempos são obscuros e em muitos setores o país se desestrutura a olhos vistos. Mas precisamos resistir, tomar esses exemplos de incessante luta pela educação e salvar o destino do “Zezão”, devolvendo-o à comunidade.
O futuro da cidade não só merece como precisa desse resgate.
Cristiane Tamer
Comunicadora e criadora de conteúdo digital
Fabiano Bessa
Engenheiro de Certificação da Mitsubishi Aircraft Corporation
Frederico Resende Carvalho
Engenheiro mecânico
Gustavo dos Santos Anjo
Gerente de construção Offshore, Sapura Navegação Marítima
Luciana de Sousa Batista Leite
Médica radiologista (Araxá, MG)
Marcelo Dias Ferreira
Analista de Projetos de Exportações do BNDES
Marcos Galileu Lorena Dutra
Funcionário público federal e professor universitário
Wesley Ferreira de Araújo
Médico intensivista (Ribeirão Preto, SP)