Já se dizia desde a Antiguidade: castigat ridendo mores, algo como é rindo que se corrigem os costumes. Nos dias correntes, a versão mais atual desse saudável hábito são os memes, aquelas pequenas peças de conteúdo digital que, quanto mais fazem rir, mais viralizam.
Um, bastante popular, tem um senhor de cabelos brancos em frente ao seu computador, enquanto toma seu café. Na primeira imagem, ele olha para a sua tela. Na segunda, ainda sorrindo, volta a atenção ao espectador. Os textos para as duas imagens variam, conforme o assunto da vez, mas o mais recente diz:
1 – Cansei de ser especialista em infectologia e virologia
2 – Agora vou ser especialista em geopolítica do leste europeu
Basicamente, todo o mundo se esqueceu do drama passado e encontrou outro assunto mais quente. Mas os comentários sobre a guerra, que ocupa a atenção geral, lembram uma velha anedota:
Dois amigos vão pescar. Planejam o dia, preparam um lanche, alugam um barco e embarcam com todo o equipamento. Saem navegando pelo lago e, que sorte, após algumas tentativas menos felizes, encontram um pesqueiro excepcionalmente bom! Passam bem o dia e voltam felizes e carregados com o produto da empreitada. Mais tarde, já em casa, conversam:
- Você viu que lugar ótimo encontramos? Quero voltar lá.
- Eu também, mas como encontraremos o mesmo ponto, de novo?
- Eu pensei nisso. Quando vi que tínhamos encontrado um lugar tão bom, eu desenhei um X no fundo do barco.
- Mas deixe de ser burro! E se, da próxima vez, não alugarmos o mesmo barco?
A conclusão, óbvia, é que todos estão errados, mas não apenas isso.
Estão errados, achando que estão certos, e com certezas absolutas. E tentam corrigir um erro com outro, incapazes de enxergar o crescente absurdo das propostas. E, o mais grave, suas certezas não encontram qualquer reflexo na realidade.
Não encontrarão mais o pesqueiro fenomenal, porque suas ações serão infrutíferas, já que baseadas em premissas completamente disparatadas. Mas sempre podem fazer um meme. Se calhar, é melhor ficar por aí mesmo.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica [email protected]
