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Aquela Época do Ano

Ana Salvador
Publicado em 15/12/2021 às 18:31Atualizado em 19/12/2022 às 00:52
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Há filmes obrigatórios a cada quanto. Há que se ver o “Feitiço do Tempo” em fevereiro, e todos os filmes de Natal em dezembro, um após o outro, até o dia 25. Começando pelo seminal “Um Conto de Natal” (“A Christmas Carol”) em suas muitas adaptações. E as há para todos os gostos, até filmes de animação, sendo uma com os Muppets.

A versão feita em 1951, intitulada “Scrooge”, traz o ator Alastair Sim como o velho Ebenezer, numa interpretação tão perfeita que ele “desaparece” no personagem. Não se consegue imaginar outro ator naquele papel, e a impressão é de que ele “não fez nada”. Claro que a sensação de tanta naturalidade vem de um imenso talento e trabalho detalhado que, com a condução do diretor, transborda para a tela e fala conosco. Não há nada acidental ou fácil nesse processo.

Assim, vemos Scrooge destilar sua dureza de coração e apego excessivo ao dinheiro, até que é transformado pela visita dos três fantasmas – do Natal passado, presente e futuro. Armadilha fácil seria mostrar o velho pão-duro como um ser todo mau e sem coração. Entretanto, Scrooge tem uma filosofia de vida; é, como todos nós, um ser humano cheio de falhas, porém, suas ações são ampliadas pelo poder dos seus recursos financeiros. Ele é um homem rico e tem sua forma de pensar. Para ele, é tudo muito lógico e não há nada de cruel no que faz; apenas, justiça. Ele paga seus impostos, então, não vê razão alguma para estender a mão aos que necessitam; o governo cuidará deles.

Ao final, à parte o evento sobrenatural, com a visita dos entes etéreos, seu mundo continua exatamente igual. Seu comportamento passado, com todas as suas dolorosas ramificações, está lá. Ele não pode mudá-lo, nem eliminar a dor já causada. Porém, é a sua renovação íntima que importa e, com ela, Scrooge vai mudar suas ações e, como resultado, também o mundo à sua volta. Essa transformação interior estabeleceu o padrão para todos os filmes de Natal desde então.

Ao final, vendo tudo em sua vida sob essa nova luz, Scrooge diz: “Eu não mereço ser tão feliz, mas não consigo evitar”. O que ele está experimentando é viver como um cristão, com a alegria transcendental que isso traz. E o bom é que isso está ao alcance de todos, Natal ou não.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica [email protected]

 

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