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Outra Rede Social

Ana Salvador
Publicado em 28/06/2021 às 19:30Atualizado em 18/12/2022 às 15:00
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Uma das grandes angústias do ser humano é estar todo o tempo comparando seu interior com o exterior dos outros. É o que conhecemos, ainda que, quase sempre, mal.

Dos outros, vemos o exterior apropriado para consumo público. Aprecia-se a educação, agradece-se a mentira piedosa, ignora-se o resto. Quantos querem realmente uma resposta à pergunta “como vai você?”. Se começássemos todos a responder sinceramente, é possível que não nos recuperássemos do choque.

De nós mesmos, conhecemos o que podemos, a versão que estamos preparados para aceitar. Aqueles medos avassaladores que nos atravessam de quando em quando, próprios da condição humana, demasiado complexos para caber num “como vai?”, somente os vemos nós mesmos. E muito de vez em quando.

Houvesse uma rede social que, em vez de férias, formaturas e baladas, mostrasse instantaneamente as involuntárias fraquezas, mesquinharias e tolices humanas, talvez o nível de compaixão mundial aumentasse. Olha aí uma ideia!

Não tem mais paciência para felicidade falsa? Fica irritado quando vê imagens superproduzidas de gente que mal conhece? Aquele comentário obtuso furou o bloqueio e agora ficou sabendo da opinião mais desnecessária do mundo? Seus problemas acabaram! Venha ver a bagunça interior dos seus conhecidos! Estamos todos no mesmo barco!

Suspeito que uma meia hora de leitura por dia valeria umas quantas sessões de terapia, por duas razões.

Por um lado, veríamos que compartilhamos muito mais do que pensamos, quando rompemos a casca. Por outro, facilmente encontraríamos quem sofra muito mais do que nós. Se esta constatação nos levasse à ação em favor do próximo, benefício extra.

No filme “A Invenção da Mentira”, o comediante Rick Gervais retrata um mundo em que ninguém é capaz de contar a outra pessoa qualquer coisa que seja falsa. Premissa interessante, entretenimento bem passado, porém algo incompleto. Levássemos o conceito ao extremo, as incompletudes que contamos a nós mesmos deveriam ser as primeiras a cair.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova - Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica - [email protected]

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