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Desafio e Superação

Ana Salvador
Publicado em 06/03/2021 às 17:47Atualizado em 18/12/2022 às 12:35
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Há desafios que são difíceis de avaliar; pouco mais podemos que tentar imaginar como é viver em condições tão adversas. Dizem os especialistas que o ser humano consegue adaptar-se e acostumar-se com quase tudo, apenas dando-se-lhe tempo.

Assim, pessoas que subitamente se veem privadas de capacidades fundamentais, como andar ou ver, num primeiro momento, debatem-se com a condição em si e, também, com o impacto emocional da perda. Até que o instinto de sobrevivência fale mais alto, o apoio da família e de amigos segue entrando, o tempo passa e a vida, afinal, tem sentido outra vez, de outra forma, é verdade, mas tão vida quanto, tão válida quanto, tão essencial quanto é toda vida.

Com sorte, depois alguém escreverá sobre o assunto e, com mais sorte ainda, um filme nos mostrará uma versão mais digerível. Sim, veremos os fatos, no entanto, não sentiremos a dor, a frustração, os muitos dias de desânimo que se alinharam, até que o final feliz chegasse. Se achamos que o final não é tão feliz, pode não ser pela incapacidade em si, mas por se tratar de seres humanos, vivendo neste planeta.

É própria da nossa condição essa felicidade que nunca chega. No fundo, sabemos que não somos o que poderíamos, a grandeza infinita que Deus nos propõe, fora do nosso alcance, por nossa própria teimosia. Somos imperfeitos, entretanto, seguimos tentando.

Gostamos de histórias de superação e buscamo-las por aí. Em livros, filmes e, mais recentemente, em redes sociais, em que qualquer um pode contar suas lutas. Assim, não mais uma história precisa ser apaixonante para ser contada; basta que esteja ao alcance de um teclado.

E o mundo vai se maravilhar com as dificuldades de pessoas que, oh meu Deus, não podem se apresentar juntas no controle de fronteira do aeroporto quando vão a Paris, porque não são oficialmente casadas. E tome narração de sofrimento e constrangimento sem fim. Outra descreve a arbitrariedade de ter o marido preso. Poderia ser o caso de uma prisão injusta, mas, não, ela deixa claro que ele é bandido mesmo, porém é o amor dela; assim, isso tudo é horrível e o mundo é mau.

Sem querer comparar sofrimentos, cada qual sabe de si, do ponto de vista do espectador, não nos move como a história da atleta olímpica que ficou tetraplégica, refez sua vida e vive feliz com a família, em sua comunidade. Ou do pugilista que ficou vinte anos preso por um crime que, comprovadamente, não cometeu e, ainda assim, ao sair, não se deixa tomar pela amargura e hoje presta serviço a outros que necessitam de justiça.

Temos pouco controle sobre o mundo lá fora, ainda que a rotina do dia a dia nos dê a ilusão de que sabemos o que vai acontecer amanhã. Não fazemos a mais pálida ideia. O mais importante não é o que acontece, porém, antes, o que fazemos com isso. Nossas ações são, essas sim, decisão nossa e são elas que vão definir a nossa história.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica

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