Sempre tivemos medo de alguma coisa. Desde crianças. Nossos pais, de um modo geral, usavam do medo para nos educar.
Sempre tivemos medo de alguma coisa. Desde crianças. Nossos pais, de um modo geral, usavam do medo para nos educar. Contavam-nos estórias de mulas sem cabeça, de lobisomem, de assombrações, de almas penadas, do capeta. Além disso, tínhamos medo de nossos avós, que eram excessivamente severos e nunca nos faziam nenhum carinho. E o que era pior, usavam do medo de Deus para que nos comportássemos com as regras deles. A frase “Deus te castiga” era o melhor recurso que possuíam. Foram eles os responsáveis para formarmos dentro de nós a figura de um Deus castigador, que, por qualquer pecadinho, nos mandava para o meio do inferno. A religião nos enchia a alma de remorsos e medos. Ainda hoje há pais que usam esses medos blasfêmicos de que Deus nos castiga. Sabemos que não é Ele que nos castiga, somos nós que livremente escolhemos os piores caminhos. Se o medo caracterizou nossa infância, a realidade hoje é muito pior. Nossos medos continuam muito mais intensos e neurotizantes. Temos medo de tudo, dos castigos divinos, da morte, do câncer, do H. pylori, do colesterol, do Aedes aegypti, do Alzheimer, das doenças em geral. Não sabemos mais o que comprar nos supermercados, tudo lá está entupido de aditivos químicos. Temos medos dos remédios, que nos curam por um lado e nos arrebentam por outro. Temos medo dos assaltantes. Cercamos nossas casas de todo tipo de defesa: entrada televisionada, chaves tetra, rede elétrica, canzarrões assustadores, grades de todos os tipos. Lógico que todo esse mundo nos afeta psicologicamente. Vivemos assustados. Tensos. À noite, o barulho de uma moto nos deixa de sobreaviso. Não andamos sozinhos. Cada garoto malvestido é olhado com suspeita. E assim lá se vai a nossa paz. Tudo isto me faz lembrar de um eletricista aqui em Uberaba. Gabava-se de ser comunista. Desancava o governo, o Exército, os latifundiários, os imperialistas, essa “caterva” de exploradores do povo. Enquanto emendava um fio, ia repetind “A salvação está no Comunismo, e não vai demorar”. Acontece que veio o Golpe Militar de 1964. Nosso eletricista foi pego pela Junta Militar. No interrogatório, perguntaram-lhe: “O senhor é comunista?” E ele, com toda coragem e convicção, respondeu: “Não senhor, eu sou é eletricista”. Padre Prata