ARTICULISTAS

O Racismo visto por estudos comportamentais

Rafael Campos Oliveira Jordão
Publicado em 22/06/2020 às 07:01Atualizado em 18/12/2022 às 07:15
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Com a questão racial em pauta é interessante citar alguns estudos sobre como o ser humano se comporta ou deixa de se comportar. Que o racismo existe isso é um fato e negar isso é um tanto quanto terraplanismo da sua parte. “A mais eu tenho que me esforçar também”.

Experimento realizado por Roland G. Fryer e Steven Levitt¹ levantou nomes que são comuns em comunidades negras e nomes que são comuns em comunidades brancas. Em seguida pegaram currículos idênticos e distribuíram nas mesmas empresas. DeShawn Willians e Jake Willians, o primeiro nome típico de comunidades negras e o segundo comum a brancos.

Adivinha quem era chamado para entrevistas de emprego?

Talvez você tenha que se esforçar, mas existem pessoas que devem enfrentar barreiras que você não vê.

Um tanto quanto depressivo são estudos relacionados a reações involuntárias do cérebro. Ele é extremamente vinculado a tonalidade de cor e diferenciação racial. Um estudo ao mostrar rostos em menos de 1 décimo de segundo para as pessoas (você custa a ver nesse tempo) fez com que os participantes não dissessem o que viram com acurácia. Exceto a tonalidade da pele. A amígdala se torna mais reativa ao ver rostos que não do mesmo grupo, e quanto mais racista maior a reação dela².

Joshual Correl da Universidade do Colorado resolveu testar mostrando rapidamente pessoas com armas ou celular. O experimento fazia referência ao assassinato de Amadou Diallo. Em que 4 policiais brancos mataram Amadou, que era negro, quando foi retirar a carteira do bolso e foi confundida com uma arma. O que o autor do estudo fez foi observar “eventos potenciais relatados” (ERPs) que são estímulos induzidos por mudanças elétricas acessadas pelo EEG. Quando aparece uma face ameaçadora há uma mudança significativa no ERP.

O que o estudo dele revelou foi que rostos de pessoas de outra raça ativam a ERP de forma significativa. Porém um estímulo do córtex pré frontal surge após dando uma segurada no impulso. Quanto maior o estímulo retirado do ERP e menor o estímulo do córtex pré frontal, maior a probabilidade de um “cara” levar o tiro confundindo o celular com arma. Ainda demonstrando o mesmo fator, estímulos implícitos (conhecido como primming) de negros para pessoas brancas faziam elas detectar com velocidade maior armas ao invés de livros ou câmeras³.

Mais estudos mostram que indivíduos com o estereótipo de negro costumam receber sentenças mais severas que outros4. Enfim a lista é imensa.

Há uma percepção de que os indivíduos separam entre nós e eles. Eu separo as pessoas que pertencem ao meu grupo “nós” e as pessoas que fazem parte do grupo “eles”. A ocitocina tem um papel interessante nesses vínculos próximos, porém ela pode nos deixar arredios com aqueles que são externos, e a xenofobia pode ser um desdobramento disso. Uma das formas de diminuir isso é não pensar em pessoas como grupos. E sim em indivíduos. Não se pensa em todos os negros que sofrem diariamente, pense no Floyd isso aumenta a empatia.

Por fim. Sugiro que vocês busquem na internet o IAT, em português chama-se TAI (Teste de associação Implícita). O que esse teste tenta mensurar são as associações e a velocidade que elas ocorrem para situações como “obesidade é ruim” ou “negros e armas”. Óbvio que como teste há críticas, mas é interessante tentar entender dessa forma.

Essas são áreas da ciência que tentam entender o comportamento humano. São sujeitas a experimentos que contradizem elas. E devem ser olhadas com atenção, afinal não podemos simplesmente generalizar o racismo como “amigdalas reativas”. A biologia e o ambiente interagem o tempo todo. Então cuidado. Vamos para as discussões.

Obs: Estereótipo de nerd, costuma diminuir a sentença de uma pessoa negra7.

Referências

Roland G. Fryer & Steven D. Levitt, 2004. “The Causes and Consequences of Distinctively Black Names,” The Quarterly Journal of Economics, MIT Press, vol. 119(3), pages 767-805, August

Ito & G. J. Urland, “Race and Gender on the Brain: Electrocortical Measures of Attention to the Race and Gender of Multiply Categorizable Individuals”. JPSP 85 (2003):616.

Correl et al. “Event-Related Potentials and the Decision to Shoot: The Role of Threat Perception and Cognitive Control”. JESP 42 (2006): 120

Blair et al., “The Influence of Afrocentric Facial Features in Criminal Sentencing”. Psych Sci 15 (2004):674.

de Dreu et al. “Oxytocin Promotes Human Ethnocentrism” PNAS 108 (2011): 1262

Wheeler, M. E., & Fiske, S. T. (2005). Controlling racial prejudice: Social-cognitive goals affect amygdala and stereotype activation. Psychological Science, 16(1), 56-63.

M. Brown et al., “The Effects of Eyeglasses and Race on Juror Decisions Involving a Violent Crime”. AMFP 26 (2008):25. 

*Psicólogo organizacional na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, pós graduando em economia comportamental pela Espm. Curioso por assuntos que tratam de comportamento humano, ou seja quase tudo.

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