ARTICULISTAS

2021, o ano da pobreza

Adriano Leal
Publicado em 08/02/2021 às 21:42Atualizado em 19/12/2022 às 04:56
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Estamos nos aproximando de 1 ano de pandemia e não só o número de contagiados e mortes é assustador. O número de pessoas que vivem em situação de extrema pobreza saltou de 4,5% da população para 12,8% nesse período. Enquadram-se nessa estatística aquelas pessoas que vivem com menos de R$246,00/mês ou menos de R$8,00/dia. Isso significa dizer que tínhamos 9,5 milhões de pessoas em 2020 e, agora, temos pouco mais de 27,3 milhões de pessoas sobrevivendo sabe-se lá como. Isso quer dizer que em 1 ano tivemos o equivalente a um Equador na miséria absoluta dentro do Brasil. Mas, se você ainda não tem dimensão disso, equivale à SOMA populacional de Portugal, Grécia e Noruega, juntos. Se formos comparar com a sempre esquecida África, isso equivale à população de Camarões, Nigéria, Gana ou Moçambique. O leitor escolhe qual espelho da nossa pobreza interna. Mas, se ainda assim, não fizer a dimensão disso, vamos usar um país vizinho que se tornou alvo de comparações nos últimos anos e temor de alguns em nos tornar igual. Sim, estamos falando da Venezuela! Temos uma Venezuela dentro do Brasil em situação de extrema pobreza, mas as pessoas insistem em ignorar a Venezuela interna e se preocuparem com a Venezuela vizinha. Quem está se preocupando com a nossa Venezuela?

Recente estudo publicado pela OXFAN, instituição esta que estuda a desigualdade no mundo, indica que as pessoas mais ricas do mundo ganharam mais dinheiro do que estavam ganhando antes da pandemia e já “recuperaram” o equivalente a U$$3,9 trilhões de dólares, algo em torno de R$24 trilhões. Nesse sentido, chegamos à triste conclusão de que o mundo mais justo e mais fraterno pós-pandemia não passa de um sonho. Os ricos estão ficando mais ricos e os pobres, cada dia mais pobres, mas o que chama mais atenção é a pobreza extrema em meio a 14 milhões de desempregados. Isso nos mostra que falta uma reação da população, que simplesmente está de braços cruzados, desapareceu. Mas qual parte da população, se uma está mais rica e a outra mais pobre? A resposta é a Classe Média. A mesma classe média que foi às ruas em 2016 parece atônita, anestesiada, confiante na vinda do “Messias”, que vai salvar o povo da pandemia e a economia. Passamos a reforma trabalhista, passamos a reforma da Previdência, passamos o “teto de gastos” e a única mudança foi o aumento da pobreza do povo brasileiro. Em que mundo a elite brasileira está vivendo? Entende-se por elite brasileira 300 famílias bilionárias que detêm a riqueza equivalente a 120 milhões de brasileiros. Eles são 0,03% da população, que ditam as regras da vida de todos nós. Em recente pesquisa sobre o ranking da pobreza do mundo, o Brasil alcançou o 6º pior desempenho entre as 32 maiores economias do mundo. Nossa pobreza é a pior do Brics, ou seja, nossa pobreza é pior que da Índia de castas, pior do que da Rússia, que a três décadas era comunista e hoje se vangloria com seus novos czares bilionários, donos de times de futebol, petrolíferas e que em cujos laboratórios se desenvolveu a Sputnik V, vacina com o maior índice de cura em pesquisas até aqui desenvolvida. E aí nos questionamos: de onde virá nossa esperança? Fatalmente, não virá da Presidência da República e nem do Congresso Nacional, que acaba de eleger seus novos presidentes nas duas casas legislativas. Aliás, a Câmara dos Deputados espelha a sociedade brasileira naquilo que de pior poderíamos ter como exemplo na política recente. Eduardo Cunha nos mostrou o quanto a inflação é galopante não só na economia real quanto no mundo das propinas. Rodrigo Maia seu sucessor participou e aprovou  todas as reformas acima citadas levando o cidadão brasileiro a miserabilidade ora exposta. Seu apoiado, vencido na eleição era Baleia Rossi, simplesmente o relator da PEC 45, que propõe uma reforma tributária que sequer cogita a taxação dos mais ricos, a exemplo do que já fizeram Argentina, Uruguai, Bolívia e Colômbia na América do Sul. O Chile já prepara seu projeto. Ou ainda Noruega, Suíça, Espanha e Bélgica na Europa. A França prepara seu projeto. Os EUA também já estudam a volta da taxação dos mais ricos, como foi feito no pós-guerra de 1945 até início dos anos 80, como forma de recuperar a economia e a qualidade de vida dos americanos. E o Brasil? Onde quer chegar? Finalizamos com a Eleição de Artur Lira, um político profissional de Alagoas, cuja família tem mais de 60 anos de mandato ininterrupto, infrator da Lei Maria da Penha e que, em caso de viagem do Presidente da República, não pode assumir porque é réu no STF em pelo menos duas ações judiciais, acusado de corrupção na operação lavação, morta nesta data. Ora, a equação da pobreza brasileira é a mesma desde o Brasil Impéri Poucas pessoas definem o que é bom para poucas pessoas em detrimento da vida de milhares de pessoas, entendeu? Se a política tem como fim o bem comum, precisamos reaprender a fazer política. No próximo artigo, falaremos da reforma tributária proposta ao congresso que irá acentuar ainda mais a pobreza de um país tão rico.

“Não vamos desistir do Brasil!”

Adriano Leal - Advogado e Membro Frente Nacional de combate ao Racismo

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