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Estamos ficando menos violentos?

Matheus Felix Ribeiro
Publicado em 17/11/2021 às 18:38Atualizado em 18/12/2022 às 16:56
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Nesse artigo pretendo apresentar o argumento do psicólogo canadense Steven Pinker de que a nossa sociedade está menos violenta, apesar de acharmos o contrário. Também apresentarei um argumento que contradiz suas ideias, pois talvez o psicólogo esteja olhando apenas um lado da questão.

Nas mais de mil páginas do livro “Os anjos bons de nossa natureza: Por que a violência diminuiu?”, Steven Pinker argumenta que vivemos no período mais pacífico de nossa história. O autor, detalhadamente, demonstra que os homicídios caíram mais de 90% na Europa desde a Idade Média. Antes dos Estados modernos, a taxa de mortes violentas era cerca de 15% e no século passado tende a ser cinco vezes menos que isso. Em todo o livro, o autor traz dados que mostram que a morte por violência era muito mais comum do que atualmente, em todo o mundo.

Mas por que temos a impressão de que a violência está tão presente em nossos dias? Duas respostas podem ser dadas para essa questão. A primeira é por causa de um efeito cognitivo e a segunda é porque a violência não diminuiu. Vamos discutir o primeiro, inicialmente.

A mente humana é um poderoso sistema capaz de interpretar informações. Apesar de eficaz para a grande maioria das tarefas, ela também é passível de erros que muitas vezes nos passam imperceptíveis. Você já se pegou pensando coisas com “Se isso deu errado, então hoje tudo vai dar errado!”. Pensamentos desse jeito acontecem frequentemente e são parte da natureza da mente. Um desses erros está ligado com a disponibilidade de uma determinada informação. Sabe aquela frase “repita uma coisa mil vezes e ela se torna verdade”? Nesse tipo de situação, nosso julgamento é afetado pela frequência com que um determinado evento nos é contado, afetando nossa percepção.

É nesse sentido que discutimos que quanto mais somos expostos a coisas violentas, como televisão, rádio ou jornal, mais tendemos a acreditar que estamos vivendo uma verdadeira hecatombe e a consequência disso é que mais sentimos que o mundo é um lugar inóspito, que devemos ter medo, sem segurança e que devemos desconfiar das relações humanas.

O segundo contraponto é que a violência não diminuiu porque o aspecto quantitativo, que avalia quantas pessoas morreram ou que não aplicamos mais torturas medievais aterradoras, conta apenas uma parte da história. A outra parte é que existe uma outra violência, mais difícil de ser mensurada, que é a violência qualitativa. Podemos citar a violência simbólica, a afetiva, a psicológica, a de gênero e tantas outras que ainda persistem em nossa sociedade.

Matheus Felix Ribeiro

Psicólogo cognitivo-comportamental; doutorando em Neurociências (UNB); vice-presidente do IBDFAM-Uberaba

 

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