ARTICULISTAS

Os Anos Seguintes

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 18/05/2021 às 14:06Atualizado em 19/12/2022 às 03:38
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A década de oitenta foi muito divertida, com a música, a dança, a moda, os filmes, a cultura, tudo muito “over”, excessivo, exagerado.

Parte do tempo estávamos curtindo uma onda “mucho loca”, parte preocupávamo-nos com o fim do mundo. Para os padrões de hoje, as extravagâncias daqueles anos soam ingênuas. Muitas cores fortes e danças ridículas, que deixaram fotos do tipo “onde é que eu estava com a cabeça?”.

Também foram os anos da guerra fria, em que duas potências construíram arsenais nucleares poderosíssimos, capazes de destruir toda a vida na Terra várias vezes.

Em 83, vimos o filme “O Dia Seguinte” (“The Day After” – Nicholas Meyer), que mostrava uma realidade em que as nações, finalmente, deixavam qualquer prurido ou estratégia restritiva que vinham até então exercendo e bombardeavam-se.

Não havia internet, notícias eram monopólio dos meios profissionais e nos chegavam a ritmo variado. Pelos padrões de hoje, muito, muito lentos. Ainda antes de ver o filme, vimos o documentário que explicava tudo, não fosse a arte suficientemente explicativa.

Lembro-me do choque ao ver um ator, conhecido pelas comédias tontas, colocado em situação limite, sobrevivendo ao impacto da primeira bomba na vizinhança, apenas para cair no cenário pós-apocalíptico, vítima das radiações reminiscentes. A bomba tinha função dupla: uma, imediata; outra, permanente. O tipo engraçado, que tanto nos fazia rir, perdendo os cabelos, ar resignado de quem sabe que está completamente contaminado, nada o salvará da morte em pouco tempo. Mas, hoje, vive.

Se o filme não deixasse claríssimo o caráter admoestatório, uma mensagem na tela, ao final, dissipava qualquer dúvida. Dizia, especificamente, que esperava que as imagens ali mostradas inspirassem as nações “desta Terra” a que encontrassem os meios para evitar o dia fatídico.

Pois encontraram. Aquele holocausto nuclear foi evitado, uma das potências envolvidas, que parecia invencível, ruiu. Como? Pareceu-nos uma coisa repentina e inesperada, porém, depois soubemos que a situação já era periclitante há tempos; apenas a informação não havia encontrado o caminho até nós.

Temos razões para otimismo hoje? Nada nos diz que a crise atual é pior do que aquela. Temos mais informação, é verdade, mas daqui a 40 anos, o que estaremos comentando sobre o que hoje não sabemos?

Ana Maria Leal Salvador Vilanova - Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica - [email protected]

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