ARTICULISTAS

Quando Parece Impossível

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 04/05/2021 às 20:26Atualizado em 18/12/2022 às 13:34
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Algumas pessoas extraordinárias que conhecemos na vida nos deixam lições. Como, há anos, um médico especialista em gestão de cenários de calamidade. Funcionário de uma organização mundial de socorro, sua área de atuação eram as tragédias humanas, guerras, ataques, discórdias em geral.

A maior dificuldade de trabalhar com ele era a imprevisibilidade da sua agenda. Bem que tentávamos! Marcávamos uma reunião para certo dia e hora, entretanto os humanos, esses inconvenientes, começavam um conflito em algum lugar do mundo e lá ia ele. Para onde? Só na volta podia contar. Quando voltaria? Só Deus sabia. Ainda assim, valia o esforço.

Qualquer conversa com ele logo se tornava interessante. Eram casos e comentários de uma realidade tão estranha quanto velho é o mundo. Cenários tão absurdos que, em ficção, seriam pouco credíveis.

Depois de viver tantas histórias com exemplos cabeludos do pior do ser humano, perguntei a ele se ainda tinha fé na humanidade. Só depois de perguntar, me dei conta do que eu tinha feito. Além de muito pessoal, perigosa pergunta. E se ele diz que não? Pra onde vou?

Porém, a resposta foi um rápido, simples, inequívoco, “sim”.

Alívio e confusão. Ainda bem que é sim, mas por quê? Depois de ver tudo isso, escapar de situações de vida ou morte, ver tanta desgraça deliberadamente provocada pela mão humana, como pode dizer que sim?

Segundo ele, em qualquer que seja a situação, mesmo aquelas de morte, desespero, destruição total, sempre alguém se levanta para começar a reconstrução. Com o quê? Como? De que forma? Não importa. No meio da multidão em modo sobrevivência, sem teto, sem comida, sem outra roupa que não seja a que tem no corpo, alguém é capaz de ver o caminho. Se calhar, não todo, apenas o primeiro passo, levanta-se e trabalha. Uns poucos veem e começam a se mexer. Com o tempo, o grupo avança e outros se unem.

Em cenários como esses de destruição e morte, o homem evolui por obrigação, sob pena de desaparecimento. Por outro lado, enquanto temos outra escolha, muitos preferimos soluções mornas, que não matam, contudo também não resolvem. Permitem-nos seguir na morrinha, vendo a vida passar e o mundo girar, levando-nos por arrasto.

Em todo o planeta, vive-se uma sensação de antecipação a um clímax por uma resolução. Pelo fim da pandemia? Ou algo mais? Lembro-me dessa história de fé no homem e rezo por dias melhores.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova - Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica - [email protected]

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