ARTICULISTAS

Somos pré-históricos

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 15/02/2021 às 20:06Atualizado em 19/12/2022 às 04:44
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A saga iniciada com o livro “O Clã do Urso das Cavernas” nos leva por uma jornada arrebatadora, que se inicia quando Ayla, uma criança cro-magnon é adotada por uma tribo neanderthal. É daqueles tipos de livro que procuramos por indicação, quando alguém, em cujo gosto e inteligência muito confiamos, nos diz que uma história passada há milênios é relevante. E como.

Ayla é poupada da morte num momento de benevolência, quando o chefe da tribo e sua companheira estão em luto pela morte do próprio filho. A visão da criança desamparada, sozinha, lançada ao desconhecido pelo mesmo geo-evento (a Terra era muito menos amável naqueles dias) foi suficiente para permitir o ato de compaixão, e Ayla é acolhida e se torna um deles. Tinha capacidades superiores, que assombravam mesmo o pajé e, por vezes, desafiavam o julgamento do chefe. Ele tinha que manter a harmonia do grupo, para o bem da sua sobrevivência. Porém, Ayla, muitas vezes respondendo à sua natureza e habilidades, rompia o status quo e lançava a tribo em discórdias paralisantes.

No final do primeiro livro, quando o comportamento de Ayla, finalmente, passa do tolerável, o chefe decide lhe infligir o castigo mais cruel. Ayla é declarada morta, ali mesmo. Ninguém lhe toca, não há a mínima intenção de cumprir o veredito, ela apenas é declarada não-existente. Prontamente, toda a tribo se põe em luto, chorando e lamentando. Ayla tinha um bebê, naquele momento no colo de uma amiga que chora e lamenta que a criança vá crescer sem mãe. Ayla foi cancelada. Conformada, ela parte. Por mais quatro livros acompanhamos suas lutas sobrevivendo só e, depois, encontrando-se com seus semelhantes para, finalmente, compreender-se.

Milhares de anos mais tarde e muita tecnologia depois, estamos bastante mais equipados. Nada hoje em dia se assemelha à luta diária pela vida, rotina para nossos irmãos primitivos. Acordamos de manhã com razoável segurança de que chegaremos ao final do dia bem alimentados e abrigados (claro que, às vezes, falha). Mas a natureza humana... Ah, essa prossegue tropeçando. Opiniões diversas, especialmente aquelas que questionam demasiado, seguem sendo punidas, triste e similarmente. Essa moda do cancelamento parece moderna, mas é o que há de mais antiquado desde que o primata inicial andou por cá. 

Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica

AnaMariaLSVilanova@gmail

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