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Pesquisas Eleitorais: a sua (des)importância para uma eleição

A história das pesquisas eleitorais no Brasil deriva das precursoras pesquisas de mercado

Carlos Magno Bracarense
Publicado em 27/01/2020 às 18:01Atualizado em 18/12/2022 às 03:49
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A história das pesquisas eleitorais no Brasil deriva das precursoras pesquisas de mercado. Com a criação do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística – Ibope em 1942, seu fundador, proprietário de uma emissora de rádio, queria saber a quantas andava sua audiência. 

Da medição da audiência e das tendências de mercado para a política e a preferência dos eleitores foi um pulo. Já em 1945 tem-se o registro da primeira pesquisa eleitoral realizada e divulgada no Brasil. Iniciava ali uma longa trajetória marcada por erros e acertos, dúvidas e certezas, verdades e mentiras.

Mas, afinal, para que servem as pesquisas eleitorais? E qual a sua importância?

Inicialmente utilizadas como produto de consumo interno para as campanhas eleitorais, segmentos do mercado econômico e empresarial e órgãos de imprensa, tanto as pesquisas qualitativas (que buscam explorar informações mais subjetivas e com maior profundidade de determinado tema para conhecer suas motivações, ideais e atitudes) quanto as quantitativas (que buscam validar estatisticamente uma hipótese pela quantificação dos dados, ou seja, coletar dados concretos: números) serviam para balizar propostas, analisar erros e acertos, confirmar estratégias, definir agendas, “abraçar” uma causa, concretizar apoios.

A partir dos anos 80, com a proliferação dos institutos de pesquisa e a vertiginosa exploração pelos órgãos de imprensa, as pesquisas eleitorais ganham notoriedade e os estrategistas políticos apostam na sua importância, devido a acreditarem que candidatos com bons resultados e baixos índices de rejeição tendem a aglutinar maiores possibilidades de apoio político, contribuições financeiras e ampliação de espaços nos meios de divulgação.

Em meio a muitas polêmicas quanto ao verdadeiro efeito de sua influência e de seus resultados práticos, criação de mitos como o “voto útil” ou do “não vou desperdiçar meu voto” e o sistemático descrédito por candidatos em condição desfavorável, os especialistas, movidos por estudos de teóricos da escola americana, acreditam que os resultados das pesquisas repercutem em função de ao menos dois efeitos psicológicos sobre o eleitorad o efeito bandwagon (ou efeito manada) e o efeito underdog (ou efeito azarão).

O primeiro efeito fundamenta-se na ideia de que os meios de comunicação, ao propagarem os resultados, incrementam a possibilidade que o indivíduo tende a somar-se à expressão da maioria, na medida em que ninguém gosta de perder. Em sentido oposto, o segundo efeito corresponde ao sentimento de lástima ou pena ao candidato que aparenta ter poucas chances, o que pode despertar a simpatia de parte do eleitorado (ALVIM:2016).

Dada a sua relevância ao ser guindada ao papel de protagonista aliada à preocupação da capacidade de influência no ato de votar, a constante utilização de seu conteúdo em peças de propaganda eleitoral e os cuidados necessários com os excessos e abusos de alguns institutos e candidatos fizeram com que o legislador eleitoral estabelecesse uma série de regras, previstas na Lei 9.504/97, para sua realização e divulgação, com a consequente aplicação de penalidades severas em caso de descumprimento, configurando uma das mais altas multas previstas na legislação eleitoral, podendo alcançar mais de cem mil reais. Especificamente para as eleições municipais deste ano, vigorará a Resolução do Tribunal Superior Eleitoral n. 23.600/2019, disciplinando o registro e divulgação das pesquisas.

No entanto, estar em primeiro lugar nas pesquisas significa estar eleito? No último pleito de eleições gerais, os resultados das urnas mostraram que não e contrastaram com sua suposta importância. Ou seria, (des)importância?! Em tempos de escassez de recursos financeiros, adoção de novas ferramentas de propaganda, o uso das redes sociais e aplicativos de mensagens, aumento da velocidade da disseminação de informações, das chamadas fakenews e o uso de robôs e, ainda, a realização de pesquisas via telefone, que são mais baratas, porém mais seletivas, tudo isso pode ter influenciado nas análises da tendência do eleitorado.

Tomando como exemplo as eleições de 2018, dois dos maiores institutos do país, Datafolha e Ibope, erraram nos três maiores colégios eleitorais em suas pesquisas, respectivamente realizadas trinta dias antes da eleição e na sua véspera. No Rio de Janeiro e em Minas Gerais, os dois candidatos que figuravam em terceiro lugar, respectivamente, Wilson Witzel e Romeu Zema, chegaram ao 2º turno e venceram seus oponentes, que apareciam à frente nas pesquisas. Em São Paulo, o erro ficou por conta de quem iria para o 2º turno, sendo que Márcio França, que aparecia em 3º nas pesquisas, derrotou o segundo colocado e por muito pouco não foi eleito governador.

O certo é que, em se tratando de pesquisa eleitoral, a matemática de dois mais dois não são quatro! 

(*) Pós-graduando em Gestão Pública Municipal pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU, atual Controlador-Geral do Município de Uberaba e advogado

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