As dominicanas à frente dos tempos

Lá estava eu, em Uberaba, participando do encontro de 70 anos da “FISTA - A FISTA NÃO FOI, A FISTA É”, no dia 26 de outubro próximo passado. Emocionei-me em diversos momentos do evento com cada abraço, cada olhar, com os depoimentos e apresentações. Momentos de brilho e significados inexplicáveis, que fizeram os quase cinquenta e um anos que me separavam dessa inesquecível instituição voltarem como um raio brilhante inundando minha memória, tornando tudo tão presente, como se o tempo não tivesse passado. Junto com esse sentimento bom, veio o sentimento de responsabilidade, somos peças importantes, não somente para afirmar A FISTA É, mas mais do que isso, A FISTA SEMPRE SERÁ. Voltei no tempo, ali estudei de 1965 a 1968, porém naquele momento parecia que eu ainda estava ali, nas lembranças dos anos sessenta. Meu pensamento foi tão longe, no fundo o sentimento era confuso, a relação do que ali vivi, dos caminhos que percorri e a indescritível percepção que o caminho não tinha terminado.

Percebi a responsabilidade na continuidade dos princípios e valores que ali foram plantados e o quanto eles estiveram presentes na minha caminhada profissional. O que parecia adormecido, nunca dormiu, esteve comigo em órgãos e instituições públicas estaduais, federais e privadas de educação, por onde passei, a FISTA esteve sempre presente, assim como estudante no mestrado da PUC-SP.

Os sólidos e profundos conhecimentos e fundamentos de educação, filosofia, psicologia e sociologia ministrados pelos grandes mestres Dedê Prais, Pe. Edi, Elsie Barbosa, as dominicanas irmã Alexandra e irmã Ester, Monsenhor Juvenal Arduini e Pe. Prata foram os alicerces sobre os quais construí minha carreira profissional. Na época não se falava em educação holística, mas vivia-se ali o pensamento filosófico do sujeito humano, que não é apenas pensante, com atenção às suas ações, sentimentos e vivências. Uma educação que ampliava espaços, que nos levava à uma observação crítica e construtiva, que valorizava a ética, o diálogo, o respeito às diferenças, o compromisso com a verdade e com a justiça social. Os quatro pilares para a educação para o século XXI: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser; apresentados por Jacques Delors em 1998, num relatório da Unesco, estavam presentes na educação plantada pelas dominicanas na década de sessenta, a FISTA estava à frente. As dominicanas à frente dos tempos.

Na FISTA, o ambiente para abertura ultrapassava seus muros, aprendendo, sentindo, fazendo, convivendo e sendo. A inesgotável busca unindo a reflexão e o sentimento ao conhecimento, para melhor compreender as incógnitas de nosso viver. O aprender a ser via-se na preocupação de formar cidadãs e cidadãos, profissionais éticos, críticos, responsáveis, sensíveis aos problemas do mundo e da sociedade que nos cercava. O aprender a conviver, traduzido no respeito às pessoas, às diferenças e diversidades, na tolerância, no olhar para o outro e a enxergar além de nosso restrito horizonte.

A boniteza e a grandeza dos momentos de compartilhamentos ajudaram a me tornar o profissional que sou, deixando por onde passei uma marca. A FISTA fez e faz parte da minha trajetória profissional. Não é apenas lembrança viva, é vida. E agora! Era 1968, nossa formatura, não poderia esquecer nosso magnífico paraninfo Monsenhor Juvenal Arduini com as sábias recomendações para quem partia e o hino presente no discurso do orador, o colega Osmar, “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, do qual destaco neste momento a estrofe: “Os amores na mente, as flores no chão / A certeza na frente, a história na mão/ Caminhando e cantando e seguindo a canção/ Aprendendo e ensinando uma nova lição.” Muito obrigada à comissão organizadora do evento A FISTA NÃO FOI, A FISTA É!

Jacira Rodrigues Mendonça Pereira, Turma de Pedagogia -1968

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do JORNAL DA MANHÃ. O conteúdo é de responsabilidade exclusiva do autor.

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