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O Projeto de Paisagismo da Avenida Leopoldino de Oliveira

Foi apresentado na última sexta-feira, dia 8 de novembro, o projeto paisagístico

Ana Paula Enes de Barros
Publicado em 13/11/2019 às 19:17Atualizado em 18/12/2022 às 01:56
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Foi apresentado na última sexta-feira, dia 8 de novembro, o projeto paisagístico e restauração do asfalto da Avenida Leopoldino de Oliveira. Com o propósito principal de recapear a pista para os BRTs, a prefeitura conseguiu verbas de R$6 milhões, dos quais R$250 mil estão destinados ao “embelezamento” da nossa avenida tão importante e em muitos momentos tão renegada em sua função estética, como ponto de relevância e orgulho da gênese da nossa cidade. 

A Avenida Leopoldino de Oliveira, via principal da formação da nossa cidade, é eixo importantíssimo por onde passava a descoberto o córrego das Lajes, que, com sua abundância de águas, inspirou o Major Eustáquio a se fixar e construir sua moradia, no que há 200 anos passou a ser conhecido como o marco inicial de Uberaba. São, portanto, eixos formadores da nossa cultura, raiz dos nossos antepassados e espaço de congregação de tantas histórias pelas quais a cidade passou em seus dois centênios.

O projeto de recapeamento é necessário, embora o ideal fosse o piso de concreto, recomendado tecnicamente, mas inviável aos cofres públicos. O projeto paisagístico que foi apresentado na reunião pública é incoerente com vários condicionantes estilístico e de segurança.

O projeto proposto para a nossa Avenida mais importante foi formulado pela Secretaria de Meio Ambiente. Houve a alegação de que este seria feito de forma “acanhada” porque o dinheiro que se tem destinado a esse fim é “pouco” e a cidade teria que “aceitar” o que se oferece no momento.

E quais os agravantes de tal projeto?

O projeto que se apresentou demonstra uma linguagem desconectada do mundo contemporâneo e da demanda atual por revitalização de espaços públicos. A colocação de manilhas de concreto com plantas no corredores e um pergolado de madeira em certos pontos da avenida demonstra uma total desconexão com as novas diretrizes e orientação que o paisagismo valida como eficazes, sustentáveis, permeáveis e dinâmicos no século XXI.

Além da descoordenação com o sentido de paisagem, que erroneamente se confere à colocação de plantas em locais predeterminados, um grande problema desse projeto é que pode trazer danos a integridades dos cidadãos, e uma ineficácia no sentido de custo de manutenção da materialidade escolhida.

Um pergolado de madeira em uma avenida que tem tendência ao alagamento e às corredeiras provenientes disso pode se tornar uma arma nessas circunstâncias, podendo machucar e danificar seriamente transeuntes, carros e lojas, caso essas peças de madeira se soltem. Como se sabe e por experiência de 25 anos como arquiteta, a madeira é um material orgânico muito bonito, mas que requer uma manutenção constante, tão amiúde, que proprietários particulares desistem de sua utilização pelos custos e esforço no seu cuidado.

As manilhas coloridas onde serão plantadas espécies de maior durabilidade e pouca manutenção tampouco são coerentes em termos de materialidade, significância e estética e menosprezam a importância histórica da Avenida Leopoldino de Oliveira, além de se tornarem diques de poderosa força para a criação de corredeiras, a exemplo do que vem acontecendo com os bancos da rua Artur Machado.

E como usar o recurso de R$250 mil que “sobra” para o “embelezamento” da cidade? Que tal convidar a população a opinar sobre suas reais necessidades e convocar um profissional de Arquitetura e Urbanismo, Agronomia, Desenho Geométrico ou Belas Artes (habilitados por lei a assinar projetos paisagísticos) para atender a uma demanda tão importante como o processo de revitalização da nossa avenida principal? Mesmo que seja com recursos “módicos”, seria desejável que a prefeitura e suas secretarias exercessem o papel de eleger as diretrizes e premissas projetuais e depois fiscalizar e escolher as melhores opções que atendem ao binômio preço-qualidade, feitas por profissionais habilitados. 

(*) Coordenadora do grupo Observatório Urbano, arquiteta e urbanista há 25 anos com atuação principal em Brasília, além de Uberaba, São Paulo, Rio de Janeiro, Tocantins e Miami; atualmente professora da Universidade de Uberaba, mestre em Teoria e História da Arquitetura

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