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Para que o Centro de Uberaba volte a brilhar

Uberaba cresceu em torno do Centro e, à medida que as distâncias aumentaram, os meios de transportes disponíveis estabeleceram suas bases

Leonardo José Silveira
Publicado em 02/10/2019 às 21:50Atualizado em 18/12/2022 às 00:43
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Uberaba cresceu em torno do Centro e, à medida que as distâncias aumentaram, os meios de transportes disponíveis estabeleceram suas bases no bairro central. A praça Rui Barbosa, por exemplo, foi ponto de charretes, dos sofisticados Ford 29, de jardineiras, de ônibus, que faziam desse lugar caminho obrigatório para quem usufruísse destes meios. Como as distâncias do Centro para as periferias são menores que as de um extremo a outro da cidade, desenvolveu-se uma logística única, o que favoreceu a aglutinação de equipamentos e de serviços naquela localidade. 

Em estudos sobre o Centro de Uberaba constatamos que as áreas de maior concentração comercial passam por reajustes, decorrentes de mudanças nos fluxos, nos meios de transportes públicos, nas novas centralidades e pelas perdas de estabelecimentos em algumas vias e abertura de novos em outras.

Os efeitos dos agentes de repulsão se processam em longo prazo. Salas comerciais, galerias, prédios inteiros vão sendo esvaziados gradativamente. Quando o bairro não possui recursos para se revigorar e vai sendo “abandonado”, a cidade assiste à morte do centro. Mas, antes que isso ocorra e se tente gastar milhões em projetos pouco eficazes de revitalização, políticas preventivas de melhoria do espaço urbano devem ser implementadas. Basta que, para tanto, se conheça a fundo a dinâmica urbana, principalmente, os agentes que atuam repelindo elementos geradores da diversidade, que é o que garante a vitalidade de um centro urbano.

O impacto mais significativo para o comércio na área central é a perda de moradores e de equipamentos urbanos geradores de fluxo. Um exemplo de como isso atua é o caso do Fórum que, com sua saída levou consigo a Promotoria do Ministério Público e a OAB. Essas instituições atraíam escritórios de advocacia, papelarias, lanchonetes, restaurantes para atender funcionários e o público frequentador. Temos o caso também da Prefeitura Municipal e suas secretarias, dos cinemas que foram para os shoppings, de hotéis e hospitais que foram fechados como o Grande Hotel, o Hospital São José, o antigo Pronto Socorro de Fraturas, a mudança do Hospital Universitário da Uniube para o campus Aeroporto, o fechamento do Clube do Jóquei. Ou seja, é um processo que vem ocorrendo há décadas.

Ao fim do dia, com a queda na presença de pessoas após o horário comercial, o pedestre que caminha pelo Centro sente insegurança, pois há ruas inteiras sem nenhum morador. É necessário que as pessoas voltem a morar no Centro. Daí a necessidade de se estimular a diversidade de usos (comercial e residencial). Contudo, ainda o metro quadrado mais caro da cidade, seja para aquisição ou locação, em função da infraestrutura e localização e isso é um importante agente de repulsão.

Além dessas causas também destacamos os novos centros de bairro, localizados nos principais eixos de circulação da cidade, com destaque para as avenidas como Prudente de Morais, Elias Cruvinel, Nenê Sabino, Orlando Rodrigues da Cunha, Nossa Senhora do Desterro, Ramid Mauad e muitas outras, além dos dois shoppings  centers que concorrem com o comércio central.

Do ponto de vista estético há envelhecimento do comércio central, com falta de investimentos em vitrines e no interior das lojas, por exemplo, além dos letreiros e outdoors gigantes (poluição visual), calçadas em más condições para circulação, sujeira...

O aumento da frota veicular dos últimos anos sobrecarregou a circulação central, pois no traçado urbano de Uberaba ruas e avenidas convergem para o Centro. Com uma frota de mais de 100 mil veículos a circulação e os estacionamentos nesse setor tornaram-se congestionados. Além disso, o tráfego excessivo  promove ruídos e poluição, que repele moradores.

As pessoas se esquecem de que as enchentes também são agentes de repulsão e que apesar de amenizadas, continuam acontecendo e atingindo lojistas.

Há grande potencial em tornar o Centro um lugar de destaque e de atração na cidade, empregando-se de princípios que mantenham a vitalidade e a diversidade de usos. Esta é a fórmula mais assertiva aplicada pelo urbanismo contemporâneo para revitalização de centralidades.

As virtudes do centro devem ser mais bem trabalhadas, entre elas justamente sua arquitetura antiga, que detém o que chamamos de espessura histórica, sendo este importante agente de atração. Edifícios antigos bem conservados tornam-se elementos de destaque para o comércio local e vemos muitos exemplos disso, como o Mercado Municipal.

Ruas bem conservadas, calçadas bem mantidas e belas vitrines são elementos mínimos pra atrair as pessoas.  

O centro preenche as condições necessárias para gerar a diversidade, mas possui problemas. É recomendável que a administração municipal não interfira diretamente em um local povoado por empreendimentos privados, mas que crie incentivos que promovam a diversidade de usos, em diferentes horários e a habitação popular.

É necessário que se aplique a lei de limpeza de fachadas para controle da poluição visual e melhoria estética da cidade. Além disso, precisamos de um paisagismo de qualidade, prevendo ruas arborizadas e floridas, incentivando a construção e manutenção de boas calçadas (se possíveis padronizadas).

Uma grande virtude que o Centro de Uberaba possui é seu patrimônio arquitetônico, que faz dele um lugar único. Não se pode desprezar essa riqueza.  Superar os agentes de repulsão e promover a atratividade do Centro é um trabalho de todos: da administração pública a lojistas e entidades classistas. Estamos dispostos a ajudar com conhecimento e orientação. 

(*) Coordenador do Observatório Urbano Grupo de Estudos sobre a Cidade

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