ARTICULISTAS

Quando ela passava

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 09/07/2020 às 07:17Atualizado em 18/12/2022 às 07:43
Compartilhar

Passava como se pretendesse ser observada detalhadamente. Sabia de seus predicativos e sem constrangimento partilhava e sentia a apreciação dos olhares inebriados que fixavam em cada ponto e dobra de sua harmônica plástica. Desembaraçada, destemida, desenvolta, descontraída, desafiava a lógica, que, diante dela, tudo fazia sentido e tudo se justificava. Cada passo registrava uma intensa movimentação e inquietude de todos que observavam e se mostravam receptivos, disponíveis a integrar sua caminhada, seguindo-a servilmente, aficionados e inapelavelmente rendidos àquela magistral desenvoltura.

A sincronia irretocável, sintonia impecável soavam como sinfonia perfeita, seu arranjo chamava atenção pelo toque de arte indiscutível e resistia ao tempo e ao vento. Era como se rufassem o anúncio de mais uma tocata pelo renascimento do conteúdo e da forma que representam a esplêndida composição, ou seja, por fora bela viola, por dentro muito talento. Permanecia se apresentando com galhardia irreverente na medida ideal para chamar a atenção de maneira a magnetizar atração por onde circulava. Sua escalada em solo horizontal parecia elevar a todos a patamares de enaltecimento e graça, por vezes delírio de quem se excita e passa a não se conduzir com os pés no chão. Aplausos, palmas, acenos de espectadores embalados pela graça, magia, disciplina e também de um improviso de encher os olhos e sacudir a alma.

Do início ao fim, seu corpo inteiro integrava de ponta a ponta o ritmo cadenciado de quem se prepara para ofertar o que tem de melhor para encantar com os diversos estilos quando se apresenta. Sabia trajar o corpo todo com a apropriada indumentária pertinente a cada exibição. Não havia quem não comentasse um detalhe ou outro, seja do corpo inteiro ou de alguma parte. Não tinha como passar imperceptível. E ela sabia e nutria aquele embevecimento, convicta de propiciar momentos de fabulosa excitação coletiva, provocando delírio de muitos. Por um bom tempo era mais do que aguardada.

Comentada sempre quando encerrava o percurso, despertava o desejo de quero mais. Sabiam que haveria uma próxima e ela estaria da mesma forma pronta, preparada, disposta a mais um belo espetáculo. Com o corpo todo sintonizado, firme, vigoroso em alegoria. Ela era a tradicional, estimada, festejada e adorada Banda. E hoje veio me ocorrer a falar um pouco dela que já não há mais. Escutando a música, resolvi colocar na minha banda aqui uma lembrança da “Banda passar cantando coisas de amor”.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por