ARTICULISTAS

Coronavírus, nada será como antes

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 30/03/2020 às 18:19Atualizado em 18/12/2022 às 05:16
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Muitos acreditam que interromper agora o isolamento horizontal temporário é como se voltássemos a janeiro de 2020 quando ainda não havia a presença do coronavírus aqui. Não estão entendendo que ao abrir um comércio e um funcionário é infectado, vai ter que voltar a fechar, será notificado e devidamente informado. Os clientes se afastarão daquele local e muito provavelmente será fechado por um período.

E mais, e se um funcionário se infectar gravemente? O empresário vai indenizar? Onde ele será atendido?

Estará colaborando para congestionar o sistema de saúde. Estão achando que voltar às atividades é como ignorar o corona, relevá-lo, mas, ao contrário, ele vai intensificar sua presença, participar o tempo todo com todos, nas ruas, nos comércios, nos balcões de venda, em todas as instalações. O nosso cotidiano não mais pode ser considerado sem o corona durante a pandemia. É fundamental que se entenda, o caos vai ficar muito maior abrindo tudo e o vírus circulando intensamente.

É preciso compreender que haverá uma contaminação massiva em um curto espaço de tempo. Funcionário, dono da empresa, cliente. Como é que vai ficar? Uma curva exponencial íngreme, avassaladora, com congestionamento colapsando todo um sistema de saúde. Tudo entra em colapso.

Não é simplesmente abrir o estabelecimento e tudo volta ao normal. A maioria das pessoas não vai sair para comprar. Então, de repente tem estabelecimento que vai abrir e vai ficar mais oneroso aberto que fechado. Nós estamos falando de um país com 50% de saneamento básico e a outra metade sem acesso à coleta de esgoto e 35 milhões sem água tratada, com uma das mais injustas distribuições de renda, De um país onde um paciente precisou fazer suas necessidades básicas, defecar, num cesto de lixo na fila do corredor hospitalar.

De palafita com esgoto a céu aberto, sem água potável, onde uma mãe sem sapato pra calçar, se equilibra nas passarelas de madeira com uma criança no colo, outra segurando a mão, seguindo em frente à procura de um médico que não sabe onde encontrar. Esse é o Brasil sem álcool gel que o Corona vai visitar também. O momento exige equilíbrio, não estimule o consumidor a consumir dor, deixe-o em casa.

Preserve-o, mesmo que ele leve tempo para comprar novamente. Mas estará vivo, lutando para recompor-se e voltar a consumir com dignidade.

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