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O álibi que condena

25 de janeiro de 2019, treze horas. Você se recorda o que estava fazendo, onde se encontrava?

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 27/01/2020 às 17:59Atualizado em 18/12/2022 às 03:49
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Republicando um ano após. O que aconteceu de lá para cá em Brumadinho?

25 de janeiro de 2019, treze horas. Você se recorda o que estava fazendo, onde se encontrava? Tem um álibi perfeito? É capaz de descrevê-lo? Tem testemunhas que corroborem? Alguma materialidade que dê veracidade à sua afirmação? Tipo pagamento com cartão de crédito, comprovante de estacionamento, enfim, toda sorte de atividades e acontecimentos os quais você participava e que lhe dará a exata ausência da cena do crime? E quando digo toda sorte é bom que entenda da forma mais graciosa e iluminada possível. Veja bem, o seu álibi não é para isentá-lo de culpa, mas sim livrá-lo de ser vítima de uma chacina. Os que foram tragados pela lama que devastou suas vidas incansáveis de labuta inglória, esses não têm o álibi perfeito, estavam bem na hora e na cena do crime, diferentemente dos seus autores que, assim como outros da confraria deles, se encontravam bem distantes do estouro do lamaçal, desfrutando das merecidas benesses que a boa e farta grana pode propiciar em uma tarde de sexta-feira ensolarada, avizinhando o fim de semana, com o reconhecido mérito de auferir lucros que nenhuma barragem de ganância é capaz de conter. Enquanto isso, distante das acrobacias milionárias que um bom fim de semana pode proporcionar em qualquer parte do Mundo, onde o dinheiro pode transportar, lá estavam na lama aqueles que, pelos braços, corações e mentes, promovem pela necessidade premente o bem-estar dos ausentes à catástrofe que cometeram. Lá se encontravam os desavisados do infortúnio e da tragédia evitável, mas cruelmente irreparável. Lá estavam as vítimas da negligência, indiferença, frieza e ganância. Vítimas indefesas colhidas de surpresa, sem direito a reação e defesa. Foi assim com tantos que já sabemos pelo nome, cujas histórias foram soterradas sem nenhum apelo. Enquanto isso, antes um pouco disso, ouvem-se vozes propondo flexibilizar a legislação ambiental. Voltando aos que “VALEM” muito, à parte endinheirada do negócio. Qual mesmo são seus álibis? Seguramente os tem e, com certeza, de causar inveja, nesse momento náusea, a todos que sucumbiram pela inescrupulosa voracidade financeira. E não se trata dessa conversa de aprender com as lições. Vida que se perde por ação criminosa não é lição a ser deixada, é homenagem e justiça pela punição merecida dos responsáveis. Quanta má fama. Brasil, um nome na lama.

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