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Entrevista com Antenógenes Silva

Além de Joubert de Carvalho (1900-1977), outro uberabense também teve projeção nacional na música

Guido Bilharinho
Publicado em 05/12/2018 às 19:18Atualizado em 17/12/2022 às 16:11
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Além de Joubert de Carvalho (1900-1977), outro uberabense também teve projeção nacional na música: Antenógenes Silva (1906-2001), tanto como acordeonista quanto como compositor. 

Conquanto isso, conquanto se soubesse de seus êxitos e sua nomeada, não se tinha notícias dos pormenores de sua vida pessoal e profissional.

Isso até que o poeta e jornalista uberabense Jorge Alberto Nabut, quando à frente da Fundação Cultural de Uberaba, promovesse extensa entrevista com Antenógenes em novembro de 1982, quando de uma de suas estadas na cidade, publicando-a em edição da Fundação no ano seguinte.

Nela toma-se conhecimento de sua formação musical em Uberaba, de onde saiu com 21 anos, tanto no âmbito familiar (pai sanfonista, com quem começou a tocar o instrumento aos cinco anos, e avô materno violinista) quanto no ambiente intensamente musical da cidade, sob a direta influência principalmente dos compositores e maestros Rigoletto de Martino e Renato Frateschi.

Mercê de série ininterrupta de apropriadas e pertinentes indagações por parte de Nabut, vai-se desvendando detalhadamente o percurso vivencial, profissional e artístico de Antenógenes em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde, neste último, conviveu e trabalhou com dois dos maiores gênios da música popular brasileira, Pixinguinha e Noel Rosa, além de diversos outros músicos (compositores e instrumentistas) dos mais importantes do país, inclusive o uberabense Pedro Vieira, flautista da orquestra da rádio Nacional e da orquestra sinfônica do teatro Municipal, “considerado um dos melhores flautistas do mundo”.

Todavia, embora constando na Wikipédia e no site do Instituto Cultural Cravo Albin informação de que em Buenos Aires gravou com Carlos Gardel e Libertad Lamarque e, na Itália, conforme o referido site, gravou com o tenor Beniamino Gigli, nenhuma referência a isso é feita por Antenógenes na entrevista, bem como não houve menção a seu conterrâneo Joubert de Carvalho, residente e atuante à época no Rio de Janeiro.

Talvez porque os estudiosos, divulgadores e comentaristas da música brasileira não se tenham interessado pela performance musical de Antenógenes como compositor e instrumentista, este, na entrevista, faz questão de ressaltar e sublinhar seu pioneirismo em várias das atividades musicais que praticou e desenvolveu por toda a vida com impressionante persistência e dedicação, incluindo sua participação na trilha sonora do primeiro filme musical brasileiro sonoro, Coisas Nossas, de 1931.

A história e a crítica musicais brasileiras devem a ele (e a todos nós) a atenção que sua obra e atividade merecem, sendo essa uma de suas omissões mais clamorosas, muito em decorrência, ou tão só, de não se atribuir ao acordeom (que também se pode grafar acordeão e acordeon) a mesma importância do piano e do violino.

A entrevista (publicada no blog Bibliografia Sobre Uberaba), por isso e pela pertinência e abrangência das indagações e objetividade e extensão pormenorizada das respostas, mercê da notável memória do entrevistado, configura-se alentado roteiro da vida e obra de Antenógenes, erigindo-se como trabalho pioneiro e fonte imprescindível dos estudos que por certo, mais cedo ou mais tarde, serão efetuados sobre vida, atividades e obras centradas e nucleadas inteiramente em torno da música, sua criação, ensino, execução e difusão. 

(*) advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, estudos brasileiros, história do Brasil e regional

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