SAÚDE

As redes sociais caíram e a vida parou?

Luiz Henrique Cruvinel
Publicado em 09/10/2021 às 10:45Atualizado em 18/12/2022 às 16:35
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A pedido do Jornal da Manhã, a psicóloga Natália Fernandes analisou a dependência que criamos das redes sociais e os impactos desse relacionamento, que pode ou não ser tóxico

O mundo parou junto das redes sociais, na segunda-feira (4). Internautas ao redor do globo entraram em pânico com a queda do Instagram, WhatsApp e Facebook, grandes meios de comunicação digitais, expondo a dependência quase mortal de algumas pessoas e empresas da vida no mundo virtual. Afinal, quando esse apego às redes sociais deixa de ser saudável? É possível afirmar que elas se tornaram uma verdadeira obsessão? Mais do que isso, estamos fadados ao fracasso na vida real já que só temos vivido virtualmente? O Jornal da Manhã conversou com a psicóloga Natália Fernandes sobre os principais pontos e efeitos desta mobilização internacional, que vibrou as bases das relações humanas por mais de 7 horas, nas formas de comunicação da sociedade.

Jornal da Manhã - Como a Psicologia enxerga a mudança de prioridades na comunicação pessoal, com foco nas redes sociais ao invés de encontros pessoais, por exemplo? É possível definir as redes sociais como uma necessidade humana, ou é algo absorvido nos últimos anos que ainda pode ser revertido?

Natália Fernandes - São vários fatores que contribuíram para o aumento da comunicação via redes sociais digitais, substituindo os encontros presenciais. Entre eles acredito que os principais são a praticidade e a rapidez. Queremos tudo “para ontem”. Nesse ritmo frenético do capitalismo, no qual precisamos fazer tudo e mais um pouco, temos pressa para negociar, trabalhar e até mesmo nos comunicarmos com amigos e familiares. As redes sociais digitais propiciam uma comunicação rápida, objetiva, mantendo nossas defesas “em pé”, sem a necessidade de se aprofundar no encontro com o outro. Assim, as redes sociais digitais permitem uma comunicação em que é possível camuflar as vulnerabilidades e dificuldades; podemos moldar um perfil ideal e apresentar para o outro com maior facilidade. Partindo do princípio que rede social é um conjunto de relações entre indivíduos, a rede social é uma necessidade humana, porque somos seres sociais. Desde os primórdios da humanidade vivemos em comunidades. O que vai variar ao longo da história é o sistema de organização da sociedade. As tecnologias criaram meios e plataformas que propiciam o aumento das redes e a promoção de movimentos e fenômenos que não diferem muito dos que já existiam antes do advento da internet. Nada se cria em um vácuo, todo fenômeno que existe hoje tem início em vários outros ao longo da história.

Jornal da Manhã - Qual a sua avaliação do caos formado ontem por causa das redes fora do ar?

Natália Fernades - Ficamos muito dependentes das redes sociais, o que só intensificou com a necessidade de distanciamento social devido à pandemia de Covid 19. Utilizamos as redes sociais não só para o lazer e para a vida pessoal, mas também para trabalhos e estudos, tornando-as primordiais no dia a dia, e quando essas ficam fora do ar, algo se quebra, algo se perde, algo se desorganiza. Geralmente, não lidamos bem com as perdas, sejam elas de qualquer tipo. Isso é o que mais leva as pessoas para a psicoterapia.

Jornal da Manhã -- Na sua opinião, as redes sociais são mais nocivas ou inofensivas?

Natália Fernandes - As redes sociais têm grande potencialidade para ser benéficas e maléficas ao mesmo tempo; não é possível defini-las como inofensivas ou nocivas por si só. Por exemplo, as redes sociais digitais podem contribuir para a insatisfação corporal e transtornos alimentares, mas também podem ser espaços de discussão e questionamento do padrão estético e normalização de diferentes formas corporais.

Jornal Da Manhã - Existe alguma maneira de “suprir” a necessidade atual de conectividade em crianças e adultos?

Natália Fernandes  - Retornando ao ponto de que nas redes sociais é possível moldar um perfil ideal (diferente do real) e escolher o que quer apresentar ou não para os outros, isso pode contribuir para um uso narcísico das redes sociais, onde a comunicação é você com o seu “eu” ideal, e não com o outro. Acredito que as redes sociais podem ser utilizadas para facilitar comunicações com o outro, principalmente com crianças e adolescentes, de forma que os adultos possam navegar no mundo virtual com elas, distanciando-se do modelo de uso das redes “cada um em seu quadrado”, mas quem sabe seja possível que duas ou mais pessoas ocupem o mesmo quadrado.

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