Outubro Rosa: cenário pandêmico afetou identificação precoce do câncer de mama

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Mastologista Leandro De Vito explica que o distanciamento social afastou também as pessoas dos consultórios médicos e a fatura dessa conta já está chegando

O mês de outubro começou marcado pela cor rosa, que identifica a famosa luta contra o câncer de mama que acontece em todo o país. A mobilização em torno deste câncer em específico parte de dados que mostram cerca de 66.280 novos casos em 2021, 6.580 casos a mais do que em 2019, segundo o Instituto Nacional de Câncer. O órgão ainda afirma que, dentro desta estimativa, cerca de 18.295 pacientes morrem pela doença, 18.068 destes são mulheres e 227 são homens.

Este expressivo número de casos tem ligação direta com a pandemia da Covid-19. A falta de acompanhamentos, causada pela necessidade de distanciamento social, dificultou a identificação precoce destes nódulos, levando a uma evasão dos consultórios e clínicas, como explica o mastologista Leandro De Vito.

“Houve uma evasão dos consultórios, das clínicas e, agora, está começando uma onda de diagnósticos tardios. Isso porque o câncer de mama não vai deixar de acontecer porque as pacientes não fizeram exame. Só que, agora, as pacientes estão encontrando numa fase mais avançada, um pouco maior, tumores que precisam de quimioterapia por serem já um pouco mais avançados do que a gente teria encontrado se elas tivessem feito o diagnóstico, os exames rotineiros”, explica De Vito.

Os reflexos desse afastamento já podem ser vistos nos dados apresentados acima, porém, continuarão sendo vistos durante os próximos dez anos, afirma o especialista. Isso acontecerá porque quem teve câncer mais avançado agora irá continuar fazendo exames no futuro, além do risco de acontecer uma metástase. “É como se a gente em dois anos, um ano e meio, tivesse dado um passo de cinco a dez anos para trás. Tudo que a gente fez nos últimos dez anos de incentivo, de diagnóstico precoce, a gente quebrou”, conta o mastologista.

Outro fator que cooperou com o aumento de casos foram os hábitos do período pandêmico em si. Muitas pessoas não conseguiram manter a prática de exercícios físicos durante esse período, que foi extremamente estressante para todo mundo. No entanto, fazer exercícios e combater o estresse são elementos importantíssimos na prevenção ao câncer de mama, que, ao contrário do que se possa pensar, não é feito somente com exames, como afirma De Vito.

“Quando a gente fala em prevenção, eu estou evitando que a pessoa tenha o câncer. Então, a atividade física, uma boa alimentação, evitar estresse e cigarro são medidas de prevenção. Já quando a gente incentiva a mulher a fazer mamografia, a gente até chama isso de prevenção, mas prevenção secundária. Eu estou fazendo, na verdade, um diagnóstico precoce. Então, quando eu incentivo uma campanha de mamografia, estou incentivando o diagnóstico precoce, para que a gente encontre lesões, às vezes até lesões pré-malignas, que nem é um câncer ainda, para evitar de ser um câncer agressivo, de ter tratamentos agressivos, perda da mama”, explica Leandro.

O mastologista ainda reforça que o Outubro Rosa é um mês para refletir sobre as políticas de saúde pública em combate e tratamento ao câncer de mama. Porém, este combate e a identificação devem ser feitos durante todo o ano. “Eu acho que este é um mês para a gente refletir sobre as políticas de saúde. Para você ter uma ideia, em Uberaba, bem como no Brasil todo, o índice de mamografia baixou muito, mas muito mesmo, tanto no serviço público quanto no serviço particular. Então, eu acho que este não seria um mês de nos preocuparmos e corrermos atrás dos danos, mas fazermos uma programação da incidência, que está aumentando, e pedirmos providências do serviço público, de uma forma geral. Tem que ser todo mundo, todo o ano, não só no Outubro Rosa”, finaliza De Vito.