SAÚDE

Setembro Amarelo propõe um olhar cauteloso sobre as pessoas

No dia 10 de setembro foi celebrado o Dia de Prevenção ao Suicídio, que aborda a questão da preservação da saúde mental

Rafaella Massa
Publicado em 12/09/2021 às 18:04Atualizado em 19/12/2022 às 02:00
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No dia 10 de setembro foi celebrado o Dia de Prevenção ao Suicídio, um tema que vem ganhando força dentro da sociedade, juntamente com tudo que aborda a preservação da saúde mental. A data, criada pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tem a intenção de conscientizar a população e os seus representantes para o assunto. Além do dia 10 em si, no Brasil, durante todo o mês de setembro é realizada a campanha “Setembro Amarelo”, voltada ao mesmo tema.

A importância das datas apresentadas se faz evidente tendo a ideia de que, no Brasil, todos os dias cerca de 32 pessoas dão fim à própria vida, ou seja, uma morte a cada 45 minutos. E, ainda, um estudo feito pelo CVV apontou que, para cada suicídio, um grupo de até 20 pessoas é impactado diretamente.

O psiquiatra Rafael Jordão explica que, na verdade, o termo correto é autoextermínio, porém, as pessoas estão familiarizadas com o termo suicídio, que pode ser uma consequência de diversos fatores, entre eles passar por recentes traumas, perder pessoas próximas ou o emprego, divórcio, dependência de drogas, fonte estressora constante, como, por exemplo, assédio no trabalho, até mesmo um histórico na família.

“Além de questões de saúde mental, como a depressão e bipolaridade, até a anorexia ou bulimia podem acabar sendo fatores de risco para o suicídio. Muitas vezes, as pessoas dão alguns sinais, só que é importante salientar que isso deve ser visto de forma global, e não isolada, por isso a importância de um profissional acompanhar”, explica Jordão.

Segundo o psiquiatra, entre os sinais que precisam ser notados pelo entorno e podem indicar a intenção de autoextermínio estão a sensação de falta de esperança, tristeza profunda e constante; tentativa de deixar tudo em ordem, como se estivesse deixando o mundo organizado para partir; organização do dinheiro no banco; desejo súbito de fazer testamento; frases como “seria melhor se eu não estivesse aqui” e “Ah, eu queria morrer”; o indivíduo mostrar arrependimento por ter sobrevivido a uma tentativa ou risco de morte. “Estas são questões para se prestar atenção”, afirma Rafael.

E a forma de evitar e prevenir o ato do autoextermínio é o acompanhamento psiquiátrico e psicológico, que se faz imprescindível. “Se tiver em acompanhamento psiquiátrico e psicológico, é importante que todos estejam integrados, profissionais e pessoas próximas”, ressalta Rafael, que complementa aconselhando a permanência de alguém próximo à vítima o tempo todo, principalmente os membros da rede de apoio desta pessoa. Amigos e família são muito importantes, sobretudo em momentos mais fortes. O psiquiatra também aconselha limitar o acesso dessa pessoa a materiais potenciais, como remédios e armas auxiliares.

Outra forma de conseguir ajuda é através do Centro de Valorização da Vida, o CVV, que faz um trabalho de apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail e chat, 24 horas todos os dias. O Centro também tem a iniciativa da campanha do Setembro Amarelo, que neste ano traz o tema “Agir salva vidas”.

Ainda segundo Rafael, além do acompanhamento profissional, o suporte social é muito importante. Uma das características da depressão é que a pessoa afetada pela doença passa a perder o interesse em convívios sociais. “Algo que antes poderia ser um motivo de alegria, agora, para a pessoa com depressão, é penoso e não é tão mais legal. Então, a pessoa é convidada para encontros casuais e, simplesmente, não tem ânimo para ir. É comum o ciclo de amizade acabar desanimando de chamar esse amigo, afinal “ele nunca vai mesmo” e ele fica sozinho. Os colegas não querem mais chama-lo”, exemplifica Jordão.

O psiquiatra explica, ainda, que essa pessoa, apesar de sozinha, muitas vezes quer encontrar os amigos, porém não vai. “É como se lhe faltasse ânimo. Com o tempo, essa pessoa acaba se isolando mais. E começamos a ter riscos, há uma falta de rede de apoio. Essa pessoa, às vezes, não está com acompanhamento. Algumas medidas para lidar com isso podem não ser saudáveis”, diz.

Apesar de ainda haver preconceito e intolerância com pessoas que tentaram realizar o autoextermínio, é preciso desmistificar a frase “Quem quer faz”. Afinal, uma tentativa de suicídio fracassada pode levar a outra. “Pensamentos suicidas e tentativas anteriores são pontos que devem e são levados em consideração sobre o risco de o indivíduo fazer de novo. Não quer dizer que por ter tentado uma vez ele não vá tentar de novo; pelo contrário, essa é uma característica que liga o alerta do profissional”, conta Jordão.

Outra questão estereotipada é dizer que a tentativa de autoextermínio ou os sinais que a pessoa vem dando são formas de chamar a atenção ou manipular aqueles que estão próximos. No entanto, o psiquiatra afirma que “pensar dessa forma também acaba prejudicando, pois, se há algum risco, ele está sendo ignorado”.

“Essas frases são preconceituosas, como se faltasse coragem para a pessoa realizar o ato. São frases que não ajudam em nada e partem de quem mostra total desconhecimento do assunto. Transtornos mentais em geral são questões de saúde e devem ser tratados como tais. Não é falta de vontade ou de alguma religião, essa é uma questão consumada. E, novamente, falar algo fora disso é só mostrar desconhecimento sobre o assunto”, finaliza.

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