SAÚDE

Oito em cada 10 pacientes que se curaram da Covid-19 podem ter sequelas neurológicas

Pesquisa foi feita em 2020 com a participação 185 pessoas e identificou que todos os pacientes estão sujeitos a alterações cognitivas

Eduardo Marins
Publicado em 20/02/2021 às 12:36Atualizado em 19/12/2022 às 04:35
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Foto/Divulgação

Neuropsicóloga Liliane Além-Mar conta que atualmente trata quatro pacientes com sequelas, como perda de memória e de concentração devido à Covid-19

Mais de oito milhões de pessoas se recuperaram da Covid-19 em todo o Brasil e boa parte deste grupo relata algum tipo de sequela que o vírus deixou. Um estudo feito pelo Incor (Instituto do Coração) aponta que 80% dos pacientes que se recuperaram apresentaram algumas alterações cognitivas, como dificuldade de concentração, perda de memória, problema com compreensão, entendimento ou dificuldades com o julgamento e raciocínio.

A pesquisa foi feita em 2020 com a participação 185 pessoas e identificou que todos os pacientes estão sujeitos a estas alterações, independentemente da idade ou dos sintomas da doença, sejam elas leves, graves ou até mesmo os considerados “assintomáticos”. A neuropsicóloga e doutora em Saúde Pública, Liliane Cristina de Além-Mar explica que o vírus não tem uma ação só no pulmão, ele afeta também outros tecidos e células do corpo.

“Aquelas do sistema nervoso central não têm a mesma recuperação do que as de outras partes do corpo. Especialmente no cérebro, o vírus da Covid-19 desencadeia uma inflamação e infecção chamada ‘encefalite’, que pode comprometer o funcionamento de todo o corpo, principalmente a parte cognitiva, atingindo a memória, a atenção, o raciocínio, a linguagem, as emoções, além da coordenação motora”, pontua.

Para identificar estes sintomas, a profissional orienta que as pessoas podem comparar a rotina atual com a que era vivida antes da pandemia e, caso perceba alguma alteração, buscar imediatamente ajuda médica de um neurologista. A neuropsicóloga contou ainda que nos últimos dias tem atendido pelo menos quatro pacientes com sintomas como estes apontados na pesquisa. “De janeiro para cá tenho recebido pacientes dizendo que não conseguem trabalhar direito, que não andam conseguindo se concentrar ou que o chefe passa alguma atividade e acaba sendo esquecida, pacientes relatando a dificuldade de raciocínio”, comenta.

Pesquisadores responsáveis pelo estudo reforçam que as consequências da doença no cérebro podem ser tratadas, isso se o diagnóstico for precoce. Liliane, no entanto, destaca que “quando se fala em lesão cerebral, nunca falamos que a reversão é garantida, mas com estimulação e um trabalho de reabilitação é possível, sim, conseguir uma busca de qualidade de vida funcional para o paciente”.

Como prevenção, seja para pacientes com sequela ou qualquer pessoa, a neuropsicóloga reforça que em qualquer momento da vida, tudo que estimula a criação de ideias e o raciocínio acaba sendo muito importante. “Ouvir uma música, tocar instrumentos, assistir a um noticiário e debater o assunto com amigos e parentes, isso ajuda muito. Em especial para os pacientes que tiveram a Covid-19 é sempre bom buscar atividades prazerosas, porque ajudam a estimular o cérebro. Procurar fazer atividades físicas, participar de alguma recreação, jogos. É recomendável evitar rotinas e sempre buscar algo diferente e que seja prazeroso”, finaliza.

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