SAÚDE

Coronavírus, gripe e dengue: por que Brasil pode enfrentar "tempestade perfeita" com alta de 3 doenças

Publicado em 02/04/2020 às 20:14Atualizado em 18/12/2022 às 05:25
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A expressão, "tempestade perfeita", foi usada na semana passada por Wanderson Oliveira, secretário nacional de Vigilância em Saúde, quando alertou, em entrevista coletiva, que "vamos ter o coronavírus, que é novo, vamos ter a influenza [gripe], que é rotina todo ano, e também vamos ter o pico da dengue... Estamos com três epidemias simultâneas".

O aumento dessas três doenças pode impactar ainda mais o sistema de saúde brasileiro. A tendência é que subam os números de atendimentos e internações por quadros graves, pressionando os recursos do sistema de saúde pública.

Se, por um lado, as infecções por coronavírus estão aumentando — já são 240 mortes e mais de 6,8 mil casos confirmados até quarta-feira, segundo o Ministério da Saúde —, por outro, a incidência de dengue, transmitida pelo velho conhecido mosquito Aedes aegypti, também tem registrado um crescimento preocupante.

O último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde diz que o Brasil já registrou, até 21 de março deste ano, pouco mais de 441 mil casos prováveis de dengue — aqueles que são notificados à pasta pelos Estados, mas ainda precisam de confirmação por meio de resultados de exames.

Ao menos 120 pessoas morreram da doença no período — é possível que esse número de mortos seja maior, pois há dezenas de casos suspeitos que ainda necessitam de confirmação.

Isso significa uma média, no Brasil, de 209 casos prováveis de dengue por 100 mil habitantes — um crescimento de 59% em relação ao mesmo período do ano passado (a comparação entre boletins de diferentes anos, entretanto, deve ser feita com cautela, já que há muitas alterações e atualizações de números depois que eles são publicados pela primeira vez).

Segundo o Ministério da Saúde, historicamente o pico de registros de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya, ocorre nos meses de abril e maio.

Ou seja, se o cenário já parece ruim, ele tende a piorar nos próximos 60 dias, coincidindo com a provável alta de casos de covid-19 e de influenza, que também costuma crescer e causar mortes conforme a média da temperatura diminui em vários Estados.

A própria influenza costuma causar centenas de vítimas no país. No ano passado, o Brasil registrou 1.122 mortes pelos três tipos de influenza, segundo o Ministério da Saúde.

Por que a dengue tem aumentado? Mas, além da pandemia do novo coronavírus, que tem consumido a atenção de autoridades e da população, por que a dengue, uma velha conhecida dos brasileiros, continua avançando no país?

Uma das características da doença é que ela se comporta como uma espécie de onda — cresce em alguns anos e diminui em outros.

Uma das explicações para esse comportamento é a alteração do tipo do vírus circulante entre a população. Existem 4 sorotipos do vírus da dengue, uma classificação que corresponde à resposta de diferentes anticorpos no infectado. Os sintomas da doença não se alteram.

Quando uma pessoa contrai dengue do tipo 1, por exemplo, ela fica imunizada para esse tipo específico. Porém, quando o sorotipo muda para o 2, ela volta a ficar suscetível a ser infectada.

Especialistas acreditam que, em parte, essa é uma das causas para a alta de dengue em alguns Estados nesse ano — uma mudança gradual do tipo 1 para o 2 vem ocorrendo há alguns anos.

De fato, segundo informações enviadas pelo Ministério da Saúde, a participação do sorotipo 2 no número de casos de dengue cresceu nos últimos cinco anos no país, chegando em 2019 ao maior percentual: 65,6% dos casos, seguido pelo sorotipo 1 (30,4%) e sorotipo 4 (3,9%).

 

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