A alta prevalência de casos de depressão na sociedade brasileira e a incapacidade gerada pelo transtorno, que cada vez mais leva ao afastamento do trabalho, preocupam especialistas
Divulgação
André Luiz Moreno afirma que há muitos sintomas que podem ser secundários à depressão, como a perda de peso
O Brasil tem números alarmantes de pessoas com depressão e transtornos de ansiedade, o que acende um alerta. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que 5,8% dos brasileiros (cerca de 12 milhões de pessoas) sofrem de depressão. É a maior taxa da América Latina e a segunda maior das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos. Estima-se que entre 20% e 25% da população teve, tem ou terá depressão, sendo essa a doença psiquiátrica com maior prevalência no Brasil.
Para o doutor em Saúde Mental, psicólogo André Luiz Moreno, a grande variedade de sintomas secundários à depressão leva a dificuldades de diagnóstico e tratamento em muitos casos. Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, Moreno destaca que a depressão é um dos maiores desafios para a saúde em geral na atualidade. E, segundo ele, vários fatores contribuem para essa situação, como a alta prevalência de casos de depressão na sociedade brasileira; a incapacidade gerada pelo transtorno que cada vez leva ao afastamento do trabalho, e a dificuldade em implementar políticas efetivamente preventivas para o transtorno, além dos altos custos associados ao tratamento da depressão.
Moreno, que também é mestre em Psicologia, observa que há muitos sintomas que podem ser secundários à depressão, entre eles a perda de peso, o ganho de peso ou agitação. “É possível que enquanto uma pessoa diagnosticada com depressão apresente ganho de peso, outra com o mesmo problema apresente perda de peso. É também possível que uma pessoa apresente agitação, enquanto outra pessoa se mostre letárgico e com dificuldade de movimentação”, explica.
Acrescenta que é possível, ainda, que uma pessoa apresente insônia secundária à depressão, enquanto outra tenha uma tendência a dormir exageradamente (hipersonia).
De acordo com o especialista, essa grande variabilidade é um problema tanto para quem sofre de depressão quanto para os profissionais que trabalham com tratamento para esse transtorno, já que exige observação e abordagem precisas e individualizadas dos sintomas secundários para o tratamento adequado do transtorno como um todo.
Auto-observação é fundamental para o diagnóstico de depressão
Apesar da variabilidade de sintomas secundários, Moreno diz que é interessante observar que a depressão apresenta caracterizadores sintomáticos que são universais: o humor deprimido e a perda de interesse em atividades de prazer. Neste sentido, cita, esses caracterizadores são grandes aliados no diagnóstico acurado da depressão e devem ser observados. Além disso, afirma que esses caracterizadores são boas medidas para avaliar a gravidade dos casos de depressão, bem como indicadores de resposta dos tratamentos para o transtorno.
A auto-observação dos sintomas, como assegura o psicólogo, é fundamental para o diagnóstico de depressão. Porém, é muito importante, também, discutir com profissionais de saúde mental especializados na avaliação desses sintomas, que podem ser primários e secundários, bem como de suas diversas variações, para o diagnóstico acurado. E, claro, sempre, buscar tratamento o quanto antes possível para melhorarmos nossa qualidade de vida frente ao “demônio do meio-dia”, como cita o livro de Andrew Solomon, excelente para a compreensão dos impactos da depressão. André Luiz Moreno é psicólogo, mestre em Psicologia, doutor em Saúde Mental, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e consultor em Saúde Mental e atende em clínica em Uberaba.