SAÚDE

Preciso tomar as duas doses da vacina? Tire estas e outras dúvidas sobre a imunização

Raiane Duarte
Publicado em 20/01/2021 às 21:24Atualizado em 18/12/2022 às 11:59
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As primeiras doses da Coronavac chegaram em Uberaba e a vacinação de alguns grupos prioritários já começou. Contudo, a população como um todo, ainda tem muitas dúvidas referentes ao processo de imunização. 

Em entrevista à Rádio JM, nesta quarta-feira (20), o infectologista Vitor Maluf, que também é integrante do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 em Uberaba, esclareceu algumas dúvidas frequentes. 

Confira a entrevista:

Chegaram as primeiras doses da vacina, em uma quantidade limitada e a Prefeitura definiu que a imunização será em duas doses, sendo aplicada a primeira e guardando o restante aplicar a segunda. Alguns reclamaram dessa decisão de guardar ao invés de usar todas as doses até que as próximas cheguem. Quem toma a primeira dose tem que tomar a segunda dentro do prazo de 4 semanas ou pode tomar a segunda dose depois sem perder a primeira?

O ideal é que tivessem chegado vacinas para todos. Como é tudo muito novo, essa indicação de necessidade de duas doses é para que se adquira os resultados da vacina que vem sendo apresentados. O que acontece: você dá a primeira dose e não dá o reforço, você não vai conseguir atingir a produção de anticorpos necessária para esse tipo de vírus. Você teria que iniciar de novo a vacinação, gastando mais doses que o necessário. É preciso tomar a segunda dose dentro do prazo de duas a quatro doses. Isso ocorre com todas as vacinas que precisam de reforço. Por isso que se optou em fazer esse esquema de vacinação, entendemos as reclamações porque todos gostariam de ser vacinados. 

Quem toma a vacina agora terá 58% de chance de imunização e ou se pegar não terá sintomas assim tão graves. Futuramente chegando uma vacina como essa da Pfizer que promete 94% de imunidade, a pessoa pode tomar outra vacina? 

Hoje o que existe é que quem tomou uma não deve tomar a outra, o mais importante é que os que tomaram não terão sintomas graves e internação, não vão precisar de UTI, essa é a grande notícia dessa vacina. Quando vacinou para a gripe comum, Influenza, os resultados eram semelhantes, era para evitar que as pessoas tivessem a doença grave. A gente faz isso também com a vacina de tuberculose, a vacina previne a forma grave. Li o Plano Nacional de Vacinação e os especialistas dizem que se você tomou uma vacina não deve tomar outra, mas isso é hoje, nada impede que daqui alguns meses mude. 

Se tomar a primeira dose de uma marca, a segunda deve ser desta mesma vacina?

Sim. Tomei a primeira dose da Coronavac, terei que tomar a segunda dose da Coronavac daqui 4 semanas, porém chegou a Astrazeneca (de Oxford), exemplo, ainda terei que tomar a Coronavac. Agora quem não tomou a primeira dose da Coronavac pode tomar a da Astrazeneca.

As vacinas, apenas a Coronavac é aplicada em duas doses ou são todas?

Coronavac e Astrazeneca são duas, a da Pfizer é uma só, a Moderna e Sputnik duas e tem uma que está prometendo muito, que é a Janssen, da Johnson & Johnson, que promete altas doses de produção de anticorpos com uma dose só. 

A Astrazeneca deve ser a segunda utilizada aqui no brasil?

Isso! Ela é a que já tem a liberação da Anvisa e quando os insumos estiverem presentes no país ela será produzida pelo Instituto Fiocruz. 

A estratégia dos municípios deve ser exatamente de aplicar o número de doses sempre pela metade? Para aplicar a primeira e guardar a segunda?

Sim, mas exemplo, chegou daqui uma semana mais 4600 doses, nem vacinou a segunda parcela (daqueles primeiros vacinadas), iremos vacinar mais 2300 e guardamos as 2300 doses da segunda, para garantir o máximo de imunização para aquelas pessoas. 

O que essas vacinas fazem, o que muda no corpo para produzir anticorpos?

O princípio de toda vacina é você dá um antígeno, que são pedaços, o vírus atenuado ou um pedaço de vírus, que vai atuar na cédula para ela produzir anticorpos, aí o corpo produz anticorpos. A principal reação é a estimulação do sistema imunológico e a produção de anticorpos. Cada vacina tem uma quantidade de efeitos colaterais, o que a gente viu, os principais da Coronavac são locais, calor local, dor no local de aplicação, dor no corpo, mialgia, eventualmente uma febre. Então é uma vacina que promete ser muito segura. O que esperamos é a capacidade desse antígeno de produzir anticorpos, da Coronavac de 58%.

Esperamos que possamos tomar a vacina, quanto tempo ficaremos imunes?

Isso ainda não sabemos, isso é um achismo meu, lendo tudo que eu li, acredito que o coronavírus vai ser igual a H1N1 e Influenza, vamos ter que dar as vacinas ano a ano. 

Há contraindicação?

A bula, a orientação da Anivsa e do programa nacional, é que se você estiver com suspeita de coronavírus, se estiver com febre, dor de garganta, você faz o exame e estando bem depois de 14 dias você pode vacinar, naquela hora não. Se tiver febre nas 24h antes não deve vacinar. Gestantes: a sugestão do Ministério é, parece, que não há nenhum problema, mas não há nenhum estudo complementar disso. Em animais nós não temos esse problema. Estão liberados para vacinar pacientes oncológicos, pacientes imunossuprimidos, que tomam imunobiológicos, corticoides,  tudo isso está liberado porque é vacina de vírus atenuado, falando especificamente dessa vacina. Se você estiver tomando antibiótico e tiver um processo infeccioso você deve esperar pelo menos 24h sem febre para fazer o uso da vacina.   

Quem tem outras comorbidades e estariam no grupo prioritário, a possibilidade é ainda de ter menos porcentagem de imunização?

Não, o trabalho foi feito de forma geral, em quem tem comorbidade também, este é o resultado geral.

Crianças podem vacinar?

Não tem estudos em crianças. 

E por exemplo um jovem de 16 anos que seja cardiopata?

Poderá sim. Os trabalhos foram conduzidos em pessoas adultas acima de 16 anos, pessoas que não tinham comorbidades, que tinham comorbidades, brancos, afrodescendentes, até 60 anos, acima de 60 anos, um mix da população para ver se ela funcionava em todo mundo e o resultado foi que 58% produziam anticorpos e as que não produziram não evoluíam para casos graves. 

É possível pensar em voltar às aulas presenciais ainda neste semestre?

Eu acredito que sim, porque você consegue fazer o controle dentro da escola muito melhor do que em outros lugares. Você orienta os alunos, o pessoal, a manter o distanciamento. Você pode fazer um mecanismo híbrido de ensino, um dia vai presencial no outro assiste em casa remotamente. Faz lanche na carteira para evitar aglomeração fora de sala de aula. Você consegue manter um controle muito maior, mas isso vai depender de cada escola. Não adianta falar que vamos fazer aula híbrida com aula remota se os alunos daquela escola não tem condição de ter equipamento técnico para assistir aula. Os protocolos estão muito bem estabelecidos, mas vai depender de uma análise e como disse a secretária de Educação, foi feita uma consulta pública aos pais e alunos para ver o que eles acham. A princípio vai voltar remotamente. 

O número de infectados estavam altos, os apelos feitos pela prefeita baixaram esses números aos níveis ideais?

Níveis ideias ainda não, o número de casos novos vemos que tem aumentado bastante, essa taxa a gente acompanha diariamente, isso ainda tem aumentado. Mas em compensação, conseguimos um respiro nos serviços de saúde, conseguimos equalizar o atendimento, aparentemente menos pessoas estão procurando atendimento e menos estão precisando de internação. Mas desses que vem ao atendimento, testamos a maioria positivo. E quanto a data de internação nas UTIS e enfermaria diminuiu também, temos menos pacientes internados. 

Isso significa que a população está saindo menos, ou que a forma da doença está mais branda? 

Acho que é efeito da conscientização, estão tentando ficar mais distantes, segurar um pouco mais, também com a notícia de que a vacina está chegando. Os apelos que têm sido feitos, os apelos da imprensa de sempre falar, mas analisamos os casos diariamente para a tomada de decisões. 

Mas a média ainda é alta?

Sim, o que diminuiu foi o percentual de leitos ocupados, nós ainda temos um RA alto, uma taxa de transmissão alta e uma taxa de novos casos bastante alta. Isso tem que ficar sempre em alerta. 

Foram criados alguns mitos e fake news em torno da vacina. Exemplo, um internauta questionou: "para que tomar se não é 100%, isso não é desespero?".

Veja bem, você tem mil pessoas, 500 não vão ter doença e 500 vão ter em forma mais branda, não vai evoluir para grave, eu já acho que um grande resultado, é muito bom, desafoga o serviço e teremos condição de prestar atendimento, tem condição de diminuir mortalidade. Poderia ser melhor? Se tivesse uma vacina que cobrisse 90% de proteção e só 10% tivessem leve seria melhor ainda. Mas, veja, a vacina da gripe começou com essas taxas também, 30% a 40%, a H1N1 é em torno de 60% também. Se pegarmos 200 milhões de brasileiros e 100 milhões não tiverem a doença, olha que beleza, olha o quantitativo de pessoas que diminuiu para tratar. 

Saiu um trabalho há pouco tempo da quantidade de pacientes que vão para a UTI, que difere de lugar para lugar, mas que a média nos pacientes que precisam de ventilação mecânica, é de mortalidade de 60 a 80%. Se conseguir diminuir os casos graves olha o tanto que você vai evitar mortes.

Se tem os incubados e 60% a 80% tem mortalidade, se você evita que esses pacientes vão para entubação, porque não vai evoluir para a forma grave, você pode diminuir de 60% a 80% também. Olha que espetáculo que é isso!

Cuidador de idoso é considerado grupo prioritário?

Os que trabalham nos asilos vão ser vacinados também.

Como será feito para comprovar que faz parte do grupo prioritário?

Vai ser feito um app para a pessoa preencher com suas comorbidades, seus dados e na situação que se encontra. Aí a prioridade é definida pelo Ministério da Saúde, vem as doses, encaminhamos para o Ministério e falamos “temos 30 mil cardiopatas, 30 mil hipertensos, precisamos de 60 mil doses, aí as pessoas vão ser chamadas pelo app para serem vacinadas. Acredito que serão usadas as salas de vacinação do município, a iniciativa privada também. Hoje por exemplo, um dos grandes laboratórios da cidade vai fornecer o carro para a gente poder ir levar os funcionários para fazer a vacinação nos asilos. Isso é muito importante para conseguirmos vacinar o maior número de pessoas, no menor tempo possível. 

Vai precisar levar o cartão de vacina do SUS?

O do SUS ou o de uma clínica de vacinação privada, tem que levar o cartão de vacina.

E quem não tem?

Faremos na hora, mas aí vai ter que atualizar, a orientação é tomar a Coronavac primeiro e depois atualizar com as outras vacinas. 

E depois de quanto tempo, exemplo a da gripe?

Duas semanas pode vacinar.

Vai ter a possibilidade de vacinar os idosos em casa?

Isso ainda não sei responder. Existe para a vacina de gripe um cadastro de acamados e eles são vacinados, creio que esses poderão receber a Coronavac através desse cadastro.  

Os alérgicos, por exemplo, quem é alérgico a proteína do ovo, ou outra alergia, podem ser vacinados?

Essa é uma das contraindicações, a da alergia à proteína do ovo, ou aqueles que têm alergia a algum componente da vacina, mas ainda não sabemos quem tem porque é nova. Ou ela faz uma dessensibilização antes, tem que procurar um médico, ele vai orientar, para dessensibilizar, diminuir a alergia para ele poder tomar a vacina depois. 

Acredito que nos próximos meses ou dias venha as orientações quanto a vacinação de crianças, hoje a da gripe pode vacinar em qualquer idade, acredito que em breve as crianças poderão vacinar também.

As outras vacinas funcionam para todas as pessoas ou tem alguma que seja mais específica para um tipo de pessoa?

Não. As vacinas são testadas em todos os tipos de pessoas, por exemplo, as contraindicações são as que comentamos, então ela pode ser usada em todo restante populacional. 

Dizem que a vacina demora de 7 a 10 dias para começar a produzir anticorpos, nessa fase a pessoa ainda está sujeita a pegar e a transmitir o coronavírus?

Com certeza, até ter a condição total de anticorpos. Precisamos lembrar que o efeito máximo da vacina se dá depois da segunda dose. Então você toma uma e em duas a quatro semanas toma a outra, então vamos fazer o tempo, você terá que ficar tranquilo por umas seis semanas. Tem que se cuidar, continuar usando máscara. Temos a variante, temos a reinfecção, precisamos tomar os cuidados até ter certeza que é seguro tirar máscara, aglomerar, abraçar as pessoas. 

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