POLÍTICA

Restaurador questiona preservação apenas das fachadas dos casarões

Medida foi autorizada para imóvel na avenida Leopoldino e suscitou dúvidas sobre a descaracterização de bens que fazem parte do patrimônio

Gisele Barcelos
Publicado em 10/09/2017 às 13:18Atualizado em 16/12/2022 às 10:38
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Foto/Jairo Chagas

Casarão derrubado e mantida a fachada, ao lado de outro que recebe restauração total, na Leopoldino de Oliveira

Preservação apenas da fachada de casarões históricos da cidade é alvo de questionamentos em Uberaba. A medida foi autorizada para imóvel na avenida Leopoldino de Oliveira e suscitou dúvidas sobre a descaracterização de bens que fazem parte do patrimônio histórico e cultural da cidade.

Em entrevista ao Jornal da Manhã, o restaurador Adriano Furini analisa que a preservação somente da fachada precisa ser adotada com critérios que protejam o patrimônio. Ele cita que a medida foi utilizada em Ouro Preto, onde existe uma rua com 50 casas do mesmo período histórico. Neste caso, apenas uma seria preservada integralmente e as demais teriam somente a fachada preservada. “Quando não encaixa no critério de tombamento de conjunto, perde todo o sentido de preservar uma fachada apenas”, argumenta.

Quanto à aplicação feita em Uberaba, o especialista avaliou que houve a desvalorização da cultura local. “Alguém teve a infeliz ideia de adaptar este critério de tombamento de fachada para uma nova função que jamais se aplica desta forma e nestes casos que foram usados em Uberaba. Vários edifícios inventariados (de interesse público de preservação) deixaram de ser edifícios e viraram muros”, pondera.

Para o restaurador, poderiam ter sido apresentadas alternativas para preservar o imóvel e viabilizar o uso do espaço pelo proprietário. “Quando se vê, em pleno 2017, as fachadas frontais do que já foi um edifício em Uberaba e que deveria ser o testemunho da importância artística ou histórica ou simbólica do edifício, o que vemos é uma parede esvaziada de signos e sentidos, como uma grande afronta à cultura local. Simples, se não tem valor, que desapareça e possa dar espaço para algo novo que seja valorável no tempo. No entanto, se tem valor, que seja meramente respeitada a condição de sua existência. Existem inúmeras soluções melhores e coerentes para o uso do espaço pelo proprietário que ele talvez não conheça, mas é obrigação do arquiteto que fiscaliza pelos órgãos de proteção”, acrescenta.

Presidente do Conphau diz que estruturas passam por análises individualizadas. De acordo com o presidente do Conphau (Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Artístico de Uberaba), Marcos Almeida Bilharinho, cada demanda é analisada de forma individual e são considerados diversos pontos: as modificações solicitadas em projeto, justificativas, importância histórica e arquitetônica do bem, o estado de conservação interno e externo do imóvel.

Além disso, Bilharinho posiciona que existem casos em que o imóvel está com a estrutura muito deteriorada. “Não basta uma reforma, é necessária uma restauração, e o custo é bem mais alto”, salienta, lembrando que também há casos em que o interior do imóvel já foi descaracterizado para ser tombado de forma integral.

O presidente do Conselho ressalta que o órgão busca assegurar a viabilidade econômica para a manutenção do bem histórico. Ele também argumenta que as escolhas feitas são para evitar prejuízos maiores, pois o proprietário poderia abandonar o imóvel desocupado e sem manutenção. “É preferível que preserve uma parte a não preservar nada”, defende.

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