POLÍTICA

Assessor "coloca na conta" de Uberaba a circulação da cepa brasileira do coronavírus em Uberlândia

Publicado em 22/02/2021 às 18:04Atualizado em 18/12/2022 às 12:14
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Durante live com a secretária de Governo e Comunicação de Uberlândia, Ana Paula Junqueira nas redes sociais, o assessor da rede de urgência e emergência Clauber Lourenço colocou na conta de Uberaba a circulação da nova cepa do coronavírus na cidade vizinha. A transmissão ao vivo aconteceu no domingo com objetivo de debater a situação do município vizinho no atual momento da pandemia.

Na fala do próprio Clauber Lourenço, é um “ledo engano achar que ‘a variante brasileira do coronavírus’ já não chegou aqui em Uberlândia. Nós estamos a 100 km de Uberaba. Já chegou, explica as mortes de pessoas tão jovens, que antes não tinha”. Apesar da declaração afirmativa, Lourenço disse que não há comprovação laboratorial de que a variante já esteja, de fato, circulando em Uberlândia, mas atribuiu a morte de pessoas abaixo de 30 anos a essa nova cepa. Na semana passada, a cidade registrou duas mortes de pacientes na casa dos vinte anos - um rapaz de 21 no sábado (20) e uma mulher de 24 na quinta (18).

Vale lembrar que somente laboratórios de referência podem comprovar a tipagem do coronavírus e este é um processo demorado. "Só vai ter a comprovação fazendo tipagem de tudo isso, que é um processo mais moroso, mais lento. Então, a gente tem uma dificuldade de ter essa comprovação. Mas a gente já percebe que passou a ter maior mortalidade de pessoas jovens e isso deve se justificar na nova cepa. Até porque ela já está difundida para todos os lugares, praticamente todos os estados já têm notícias da nova cepa. E ela tem um poder muito maior de disseminação e também, aparentemente, uma mortalidade maior", declarou Lourenço.

Em recente entrevista à Rádio JM, a infectologista Cristina Barata descarta que a vinda dos manauaras para Uberaba tenha definido a circulação da nova cepa na cidade. “É sim uma preocupação a mais porque inclusive já temos três estados no Brasil em que foi detectada essa nova variante em pessoas que não têm nenhum vínculo epidemiológico com os pacientes de Manaus. Ou seja, essa circulante já tem um livre trânsito e independe da passagem ou não, contato ou não com alguém de Manaus”, declarou a especialista.

A infectologista também declarou que a presença dessa variante com os pacientes de Manaus já era esperada pela classe médica e reforça a necessidade de vacinação da população, que “está mostrando que vai ser a barreira principal” contra o avanço da doença, a exemplo de Israel, país onde a pandemia mostrou queda drástica nos índices após imunização em massa da população. “As medidas de prevenção têm que ser tomadas porque elas são a nossa única barreira. A vacina ainda está mostrando que vai ser a barreira principal. A gente sabe que é esse conjunto de ações que vai fazer a diferença para impedir a disseminação do vírus. É lógico que uma vez detectada essa cepa em algum cidadão uberabense é obrigatório o rastreio e o isolamento muito rigoroso. Porque só essas medidas que vão evitar que a nova variante circule. No Brasil a gente já tem nove estados onde elas estão circulando”, alerta, se referindo às demais mutações do coronavírus, como a cepa da Inglaterra e a da África do Sul. 

Além disso, Cristina Barata também explicou que não há qualquer comprovação documentada de que a nova cepa seja mais letal. “O adoecimento com maior gravidade ainda não está documentado. E a grande preocupação realmente é isso, se ela leva ao maior escape da produção de anticorpos, que é o mecanismo de defesa, tanto gerados naturalmente pela infecção quanto aqueles gerados pela vacina. O Butantan está testando a vacina Coronavac para essa variante para a gente realmente entender se a vacina continua tendo o mesmo grau de efetividade”, explica a infectologista.

Dos 18 pacientes de Manaus que receberam atendimento no Hospital Regional em Uberaba, seis estavam com a nova variante. Desses seis, cinco morreram. Apenas uma mulher de 62 anos sobreviveu à infecção, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde. Da equipe médica que atendeu os pacientes manauaras, dois tiveram confirmação da contaminação pelo coronavírus, mas ainda não há informação se pela nova variante. A reportagem do Jornal da Manhã acionou a assessoria de imprensa da Fundação Ezequiel Dias para saber o resultado dos testes desses profissionais, mas ainda não obteve resposta.

A reportagem também acionou a assessoria de imprensa da Prefeitura de Uberaba com questionamentos sobre as declarações de Clauber Lourenço. Em nota enviada à reportagem, a assessoria limitou-se a dizer que não há confirmação de que a cepa brasileira esteja em circulação nem em Uberaba nem em Uberlândia e rechaçou que, caso esteja circulando na cidade vizinha, seja "culpa" de Uberaba. Veja a nota na íntegra:

A secretaria de Saúde destaca, conforme informado pelo Governo de Minas, que não há confirmação que a nova cepa P1 esteja circulando em nenhuma cidade de Minas Gerais, até o momento. Doze estados da federação já anunciaram casos da nova cepa, inclusive São Paulo, que faz divisa com Minas Gerais e se liga por meio de uma das principais rodovias do país, a BR 050, que corta diversas cidades mineiras, inclusive Uberaba e Uberlândia. Outro ponto importante, que deveria ter sido observado, é que os pacientes manauaras ficaram totalmente isolados e os quatro profissionais que tiveram sintomas gripais no mesmo período também. Dois tiveram PCR Positivo e o material foi colhido para análise. Até o momento não há resultado. A SMS destaca que as novas cepas são uma realidade mundial. Uberaba não está isolada do restante do país, assim como nenhuma outra cidade de Minas Gerais. O próprio trânsito de mineiros, entre um estado e outro, promoverá a chegada de novas cepas. Por isso, o princípio básico de cuidados contra a doença devem ser mantidos, ou seja, uso de máscara, distanciamento, uso de álcool em gel e não aglomerar.

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