POLÍTICA

"Calor da criminalidade" define localização do Cidade Vigiada

Presidente da Codiub, jornalista Denis Silva, diz que sistema deverá estar funcionando antes do Natal para garantir mais segurança ao cidadão

Thassiana Macedo
Publicado em 08/09/2019 às 06:47Atualizado em 18/12/2022 às 00:04
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Foto/Jairo Chagas

Presidente da Codiub, jornalista Denis Silva, diz que sistema deverá estar funcionando antes do Natal para garantir mais segurança ao cidadão

Preocupação com meio ambiente, transparência, modernização de processos com o uso de tecnologias e agilidade no atendimento, bem como ações mais efetivas em segurança pública, são demandas rotineiras da nova era da informação, tanto no Brasil como em outras partes do mundo. Nos últimos anos, a Companhia de Desenvolvimento de Informática de Uberaba (Codiub), empresa municipal que administra recursos de tecnologia da informação, tem trabalhado nessa direção para atender demandas do Município que fazem parte de um pacote de financiamento de medidas para modernização da cidade.

O Grupo de Trabalho para Desburocratização, implantado no final de 2016, do qual a Codiub faz parte, desenvolveu plataforma para oferecer ITBI, certidões, alvará e Licenciamento Ambiental online, o documento ‘Facilita Tudo’ e redução de documentos exigidos em processos administrativos, que resultou em economia de R$2,5 milhões, redução de prazos, revisão e modernização de leis e normas, bem como a preservação de 25 árvores.

Entre os projetos nessa linha, em processo de implantação pela Codiub ou de expansão, estão o Cidade Vigiada e o programa de digitalização de documentos oficiais. E para contar um pouco sobre esses novos projetos, o Jornal da Manhã publica entrevista com o presidente da companhia, jornalista Denis Silva de Oliveira.

Jornal da Manhã - O que é o programa Cidade Vigiada?

Denis Silva – Na verdade, começamos a desenvolver esse produto há 2 anos e, durante esse intervalo, muita coisa foi feita, muito foi testado e, como todo rascunho, muita coisa embalada e jogada fora, tanto na questão de equipamentos e sistemas. A principal diferença do Cidade Vigiada para o Olho Vivo, que é o que as pessoas têm mais em mente hoje, é que o Olho Vivo parece o monitoramento interno de TV, como o porteiro do prédio. Pessoas analisam e veem as coisas acontecerem, e sabemos que a limitação do olho humano é muito grande. Já no Cidade Vigiada nós buscamos com [softwares] analíticos. A porta de entrada para vários crimes é o roubo de veículos, em qualquer lugar do mundo. Temos um sistema que é uma muralha digital e qualquer veículo que passe por ele, tem a placa lida. Dessa maneira, conseguimos identificar exatamente aquele veículo que, se tiver envolvimento em alguma ocorrência de furto ou de roubo, o sistema apitará, dentro da central de monitoramento, para que tenhamos tempo de programar uma ação.

JM - E como ele vai ajudar a proteger a população?

Denis Silva- Teremos uma central de monitoramento que será montada na Prefeitura e, com o LPR (Licence Plate Recognition), quando houver um veículo – carro, moto ou caminhão, por exemplo -, que passar por uma dessas câmeras, um alerta vai apitar na central que estará a serviço das forças de segurança, ou seja, Polícias Militar e Guarda Municipal, que fazem a operação 24 horas por dia. Se o veículo for roubado, vamos saber na hora, entrando ou saindo da cidade. Imagine o caso da Rodoban, em que entraram 12 carros roubados na cidade. A hora que entrasse o primeiro, nós já saberíamos e a polícia já poderia se preparar. Fizemos ainda uma associação com o BriefCam, um software de Israel. Imagine que quero só os carros vermelhos que passaram na avenida Leopoldino de Oliveira, que passaram entre 22h e 22h10, ele identifica. Eu quero os carros vermelhos com carroceria, ele encontra. Isso é fundamental para o trabalho da polícia na investigação de crimes que já aconteceram. Posso ainda traçar rotas, informando o sistema que quero só os carros vermelhos com carroceria que fizeram esta ou aquela rota e viraram em determinada rua e ele vai me dar todos esses dados.

JM – Isso facilita a resolução de crimes em que há a descrição de um veículo, mas não se tem a placa, por exemplo?

Denis Silva – Exatamente. E para outros tipos de crime também. Tudo isso foi testado aqui na Codiub. São 125 câmeras. Uma central de monitoramento com softwares analíticos capazes de identificar até comportamentos, parametrizando de acordo com o que a polícia quer. Por exemplo, com uma câmera em frente a um prédio público, se eu quiser saber se, após a meia-noite, qualquer pessoa passar com mochila, mais de três vezes na porta de determinada escola, o sistema me avisa. São parâmetros que vamos poder colocar. E a novidade é que também estamos avançando, junto com uma startup chinesa, para colocar dentro do sistema, depois de implantado, o reconhecimento facial.

JM – Com relação ao reconhecimento facial, essa inclusão é uma possibilidade ou isso já está certo?

Denis Silva – É uma possibilidade grande. Nós já temos um contato importante com essa startup, mas o grande problema do reconhecimento facial no Brasil é o banco de dados. Em outros países, esse banco é unificado, mas no Brasil não. Aqui temos um banco de imagens do sistema prisional, sendo um de Minas Gerais, outro do Rio Grande do Sul, um de São Paulo e como estamos na fronteira com São Paulo, é um pouco mais complicado. Precisamos unificar esse banco de dados e criar um nosso, para que possamos identificar, mas na busca da tecnologia já estamos 90% avançados. Vai funcionar se tivermos um banco mais ou menos, mas não queremos fazer nada pela metade, queremos algo que de fato funcione. Acredito que seja algo para o ano que vem. Mesmo que não tenhamos o advento do banco de dados unificado no país, teremos uma ferramenta para criar um. É a próxima etapa do centro de monitoramento. É importante ter esse tipo de facilidade, como Calçadão e terminais de ônibus.

JM - Quais os critérios que vão nortear a localização das câmeras?

Denis Silva – São dois critérios específicos, primeiro entradas e saídas da cidade, e segundo, mapa de calor da criminalidade, e quem tem isso é a Polícia Militar. Na semana passada percorremos junto com a Polícia esses pontos e as regiões com maior incidência de crimes. Estamos dando a ferramenta, mas quem entende de segurança pública é a Polícia, e esse trabalho conjunto está sendo muito bacana, recebemos total apoio.

JM - Quem vai operar o sistema?

Denis Silva – Vamos operar com a Secretaria de Defesa Social, ou seja, com o Wellington Cardoso, que é o secretário; o Roberto, que é secretário-executivo do Comitê Integrado de Segurança Pública, e a ideia é fazer dentro da Prefeitura. Agora, quem vai operacionalizar lá dentro também pode ser as polícias Militar e Civil, a Polícia Rodoviária. O nosso contato direto é com a Secretaria de Defesa Social, mas o Wellington sempre deixou claro que ele quer integrar e unificar essas ações do centro de monitoramento.

JM - Qual o investimento a ser feito?

Denis Silva – Estamos investindo, com recursos da Codiub, cerca de R$2 milhões, em 125 câmeras, com [softwares] analíticos, com toda a estrutura de implantação e do Centro de Monitoramento e Controle, e vamos vender isso para outros municípios também. Por isso que foi divulgado no Porta-Voz 330 câmeras, mas só vamos usar 125 aqui. Não quer dizer que comprei as outras, mas se eu tiver demanda de outros municípios, vou lá e ofereço para eles, dentro daquele limite que tenho na ata que registrei. Uma coisa é Uberaba estar vigiada, mas outra coisa são as cidades de Delta, Água Comprida, Conceição e etc. também estarem vigiadas. A hora que um veículo roubado passar pela primeira cidade, eu já vou saber. A hora que passar pela segunda, eu vou saber e, às vezes, uma ação já impede que ele chegue aqui. O importante então é ter toda uma região vigiada. Vamos oferecer isso para outros municípios e estamos usando Uberaba como nosso primeiro case, como se fosse uma grande vitrine com sistema funcionando para que outras cidades se interessem. Por isso, estamos fazendo esse primeiro investimento de implantação e aquisição de equipamentos, e logo depois teremos contrato direto com o município de Uberaba.

JM – E o custo de manutenção?

Denis Silva – Também é conosco. Estamos diluindo esse investimento de R$2 milhões para a Prefeitura, ao longo de alguns anos. Então, a Prefeitura vai ter um contrato em torno de R$190 mil por mês conosco, que inclui além da implantação que já adiantamos o recurso, toda a manutenção, troca de equipamento e qualquer coisa que acontecer. Em contratos anteriores da Prefeitura, no sentido de monitoramento de trânsito, por exemplo, havia contrato que passava de R$200 mil para 12 ou 13 radares. No nosso caso, estamos colocando 125 câmeras com analítico, mais a central de monitoramento, por um preço menor. Nesses dois anos, conseguimos baixar o preço do projeto, saindo em torno de R$1.500 por câmera por mês, já com o centro investido e funcionando. Individualmente falando, é muito pouco o investimento para o benefício que o sistema vai proporcionar.

JM - Os equipamentos também serão usados para a fiscalização de infrações de trânsito?

Denis Silva – O grande problema de Uberaba é o avanço de sinal. Tem causado muita morte no trânsito. O primordial na utilização desse novo equipamento é segurança pública. Muita gente pode falar: “ah, mas o sistema vai ser usado para multar”. Da mesma forma, se tiver um agente do Olho Vivo, ele tem a capacidade de assistir e multar uma infração nesse sentido. Não é a ação primária desse projeto. O Cidade Vigiada é destinado à segurança pública. Agora, estou dando a ferramenta que é capaz de detectar avanço de sinal e aumento de velocidade acima do permitido, mas precisa da aferição do Inmetro. Não estamos trabalhando nesse sentido, mas é óbvio que nosso cliente, a Secretaria de Defesa Social, é que vai decidir sobre o assunto. Querendo ou não, segurança pública também passa pela fiscalização de trânsito. As mortes no trânsito são um problema para o qual o Poder Público não pode virar as costas, mas o projeto o Cidade Vigiada não é radar, e está visível para tratar de segurança pública. Se a Secretaria entender que nesse serviço também pode entrar a fiscalização do avanço de sinal e da velocidade, obviamente que o equipamento está apto a poder fazer.

JM - Quando começa a instalação do programa e quanto tempo vai demorar?

Denis Silva – Já concluímos o detalhamento dos pontos. Já começamos a questão dos equipamentos, que vêm blindados, e do posteamento. Temos uma previsão de [encerrar a instalação] até o final do ano, mas tenho convicção que vamos terminar isso antes, em que estaremos colocando todo o cinturão do Cidade Vigiada funcionando. Temos o prazo até o final do ano. Para fechar só as entradas e saídas da cidade inteira, pelo nosso cálculo, são 113 câmeras, pois temos muitas pequenas entradas. Cheguei a defender que, algumas entradas são tão secundárias, onde passam tão poucos veículos, que talvez seja necessário fechá-las para termos menos entradas e otimizarmos as câmeras. Isso é uma ação de segurança pública.

JM - Para a instalação, por ser sistema interligado, serão feitas obras na cidade?

Denis Silva – São pequenas obras. Quando foi feito o Olho Vivo, o uberabense ficou até traumatizado, porque quebrou a cidade inteira, mas o que eu posso garantir é que nosso impacto é muito menor. Nossa transmissão é via internet, usando cabo de rede onde já foi passado, algumas até por wi-fi e outras por rádio. Então, cada lugar terá a via de transporte de dados específica disponível e mais adequada. O uberabense pode ficar tranquilo com relação a isso, pois vamos causar o menor impacto de buracos possível. São postes finos, algumas câmeras podem ser instaladas em postes já existentes. Tudo foi pensado para causar o mínimo de transtorno.

JM – Você disse que a instalação pode acontecer até o final do ano, mas há alguma data prevista? Por exemplo, antes do Natal, é possível que o sistema já esteja funcionando?

Denis Silva – Com certeza, esse é um assunto fundamental, pois as pessoas ficam na rua até mais tarde, o comércio fica aberto até mais tarde e, com certeza, nossa expectativa é essa, de entregar o sistema operante e funcionando para a Secretaria de Defesa Social antes do Natal. Cidades que implantaram sistemas semelhantes, como Indaiatuba, no interior de São Paulo, o roubo de carro caiu de 60% a 70% e a criminalidade cai também. Não vamos resolver o problema da criminalidade, não temos essa pretensão, mas vamos entregar uma ferramenta para as forças de segurança.

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