ARTICULISTAS

Medicina Regenerativa: quais as possibilidades?

A Medicina Regenerativa integra um conjunto de técnicas inovadoras utilizadas para o reparo de tecidos lesionados

Dr. José Fábio Lana
Publicado em 09/08/2011 às 11:06Atualizado em 19/12/2022 às 22:55
Compartilhar

Como dito na coluna passada, a Medicina Regenerativa integra um conjunto de técnicas inovadoras utilizadas para o reparo de tecidos lesionados por meio de preparação in vitro e sua aplicação in vivo. Pode ser considerado um ramo relativamente novo da medicina, nascido em 1997, quando Whithman e seus colaboradores propuseram a integração do plasma rico em plaquetas (PRP) em cola de fibrina. Já em 1998, foi descoberto que uma fração de células-tronco da medula óssea era capaz de reparar vários tecidos ou órgãos, e tais descobertas acabaram por abrir as portas para o desenvolvimento da Medicina Regenerativa.

O reparo tecidual é um processo biológico extremamente complexo, em que vários fatores interagem, como idade, localização e profundidade da lesão e comorbidades, a exemplo de diabetes e infecções. Por isso, a Medicina Regenerativa possui diversas possibilidades de aplicação, que permanecem em processo de estudo e desenvolvimento, apesar de muitas delas já serem amplamente utilizadas.

Dentre essas possibilidades de terapia, pode-se destacar (i) a Engenharia de Tecidos, que envolve modificar células ou tecidos de alguma forma para que eles possam reparar, regenerar ou substituir tecidos do corpo; (ii) a Engenharia Biomédica, que emprega dispositivos que imitam a função de um tecido ou órgão; (iii) a Terapia Gênica, que busca implantar nas células afetadas genes capazes de produzir proteínas específicas para o tratamento de determinada enfermidade; (iv) e a Terapia Celular, que se baseia no emprego de células-tronco com potencial multipotente de diferenciação e/ou produtos biológicos que têm a capacidade de induzir a migração de células-tronco para o tecido danificado, para estimular sua proliferação e diferenciação, o que resulta na reparação tecidual. Neste último caso, muitas das vezes se faz necessário adicionar também biomateriais que terão a função de suporte para a formação do novo tecido.

Os concentrados de plaquetas, mais frequentemente chamados de PRP, representam uma modalidade de Terapia Celular e participam do rol de possibilidade da Medicina regenerativa. Isso porque as plaquetas contêm sinalizadores, chamados fatores de crescimento, que atraem para o local da lesão células sanguíneas que participam do processo de cicatrização e reparo tecidual. Assim, a aplicação de concentrados de plaquetas no tecido degenerado acelera o processo cicatricial, diminuindo a duração de sintomas, como dor e limitação física. A fibrina, também presente no PRP, tem a função não só de suporte para o tecido em formação, como também funciona como uma espécie de “armadilha”, que retém as plaquetas no local.

As células-tronco mesenquimais também têm papel fundamental na Terapia Celular, por se tratar de células indiferenciadas circulantes do nosso sangue com alto poder de diferenciação, podendo formar células novas de osso, cartilagem, pele, tendão, ligamento, músculo e até mesmo de tecido nervoso.

Atualmente, há diferentes técnicas de preparo e aplicação de cada um dos tipos de tratamento. As células a serem empregadas na regeneração de um tecido podem ser tanto do próprio paciente (autólogo) como de outra pessoa (alógeno), a exemplo de terapias que incluem o uso de células-tronco sanguíneas ou de medula óssea de doadores compatíveis, ou ainda linhagens de células-tronco embrionárias, que são as de maior poder de diferenciação.

Até recentemente, produtos médicos como biomateriais sintéticos ou de origem animal e humana eram regulamentados entre duas categorias: como medicamentos ou como dispositivos. No entanto, uma nova classe de produtos tem sido definida, os Produtos de Terapia Medicinal Avançada (ATMPs, em inglês). A legislação pertinente a esse assunto e a implicação de pesquisas científicas no uso desses produtos têm sido constantemente discutidos e, provavelmente, levarão ao aprimoramento de técnicas e produtos e à regulamentação para o emprego de biomateriais.

Referências

Parliamentary Office of Science and Technology. Regenerative Medicine. Postnote 2009 May; Number 333.

Porcellini A. Regenerative medicine: A review. Rev Bras Hematol Hemoter 2009; 31(Supl. 2): 63-66

 

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por