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Ouvir vozes

Publicado em 06/08/2022 às 17:00Atualizado em 18/12/2022 às 21:25
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Dentre os cinco sentidos, ao invés de citarmos o gosto oriundo das papilas gustativas, poder-se-ia classificar nesse item o som emanado do aparelho fonador “agarrado” às circunstâncias inteligíveis e sentimentais. Comum nos chamar a atenção para o que nos “fala mais alto”. E a voz é análise marcante nas minhas andanças experienciais através dela. Quer seja no tom parlante (falado) ou cantante (no canto) definem o caráter como também a “alma” da voz. É a mente que se projeta tanto quanto a voz humana redefinindo sentimentos, ressentimentos e emoções, espelhando, de corpo inteiro, o reflexo puro e sutil de nossa imagem interior.

Ela se manifesta espontânea, que não tem como disfarçar. Já ouvimos vozes de trovão que assustam criancinhas indefesas. Vozes de “cacos de vidro “ferindo” nossos ouvidos. Vozes autoritárias, que colocam potencialidade vocal, quando querem, à força, mostrar liderança sem as qualidades inerentes de um líder capacitado. Vozes de hipnotizadores adormecendo plateia. Vozes frágeis impingindo modéstia, ingenuidade, ou reticentes, quando denotam falsidades ou desconhecimento do assunto...

A comunicabilidade manifesta-se através da voz, principalmente, aliada aos gestos que a acompanham. O potencial de cada voz depende de fatores internos e externos, conduzindo para a saúde, também, vocal. A importância da higiene vocal está fadada ao sucesso de um conviver em sociedade. Há vozes fanhosas, guturais, cavernosas merecendo tratos, mesmo que não sejam cantores, porque somos todos comunicadores. Lapidar o som bruto de cada voz merece atenção não só do cantor, mas do professor, orador, vendedor, na conquista de seus objetivos profissionais. A linguagem interpretativa está intimamente ligada à respiração, através de sinais gráficos, dando-lhe mais espaço para que a respiração se manifeste nas semifrases ou períodos. Nenhum outro instrumento se compara à voz, de onde se basearam todos eles para inventos sonoros.

Deixei para fazer a “coda”, que em música é o arremate final de certas composições. Volto à Voz dos anjos, clarinadas sonoras, sem caricaturas, porque divinas. Ecoa através de boas músicas, doces convívios, nos gestuais e pelos caminhos do tempo percorridos em registros que alma e coração guardam nos imensos baús, que a vida entalha, pincela e retoca. Projeta-se nas folhas do tempo, calendários da vida. Aquece na análise consciente. Resvala-se na plenitude do reconhecimento. Mesmo adormecendo no consciente, surge nos muitos sonhos abrigados.

A voz se agiganta, marca figura, que não se apaga, jamais, porque amiga. Quer estivesse presente em reuniões da Academia de Letras, ou para dirimir dúvidas de um texto, a voz pura da saudosa Terezinha Hueb marcava sempre ternura.

A humana voz de pouca gente, em convívio salutar servindo de escada para as celestiais mansões.

Arahilda Gomes Alves

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