ARTICULISTAS

Duelo Inesquecível

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 17/01/2022 às 20:37Atualizado em 18/12/2022 às 17:56
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Dois homens de pé, a alguns passos de distância, olham-se. Um deles tem um lenço na mão, que, dramaticamente, deixa cair. Os homens estão armados e apontam um para o outro. Quando o lenço toca o chão, os dois atiram. Um deles cai. Ouvem-se os acordes de uma belíssima ária e o homem de pé recita um monólogo. No segundo em que ele termina de falar, o homem “morto” começa a cantar “Soave Sia Il Vento” (Mozart, Da Ponte), ainda no chão. Devagar, levanta-se, sempre cantando, enquanto o vencedor do duelo vagueia por ali.

Uma cena inesquecível, ainda mais vista sete ou oito vezes numa única noite. Foi durante as filmagens do filme “Variações de Casanova”, e os dois homens são o ator John Malkovich e o tenor Jonas Kaufmann. O lugar é o palco do teatro São Carlos, em Lisboa.

Sendo necessário repetir a cena várias vezes, com a câmera em posição diferente a cada take, para a plateia só aumentou o deslumbramento. A cada vez, impecáveis, tanto o monólogo quanto a ária. Show de profissionalismo e genialidade. E, entre takes, enquanto a equipe ajustava equipamentos e luzes, os artistas de renome mundial se mantinham ali, ouvindo anotações do diretor e interagindo com outros profissionais, para, a cada vez que eram chamados a repetir a cena, se posicionar e repetir a ação, sem falhas.

Ao terminar a participação, ainda se preocuparam em agradecer à equipe toda. Kaufmann se acercou à orquestra dizendo algumas palavras e depois puxou uma salva de palmas para os músicos, no que foi seguido por todos os presentes. Além de talentoso, um cavalheiro.

Lançado em 2014, o filme não é para todos os gostos, entretanto ver Jonas Kaufmann sempre é uma experiência. Mais palatável, o documentário “Jonas Kaufmann – A Global Star in Private”, disponível no Amazon Prime, dá uma pista da vida do artista.

Reproduzindo árias inteiras, é uma oportunidade de ouvir música excelente, combustível para a alma, ainda que o filme não chegue a arranhar muito além da camada pública do artista. Mas é suficiente para ver um pouco atrás do palco, a convivência com a família, amigos e colaboradores. E constatar quanto trabalho duro há por trás de seus desempenhos impecáveis. Talento é mesmo 10% do resultado, e, quando o talento é imenso, a dedicação tem que ser total. Vale a pena.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica

 

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