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Onde estão os nossos heróis?

Publicado em 27/11/2021 às 19:19Atualizado em 18/12/2022 às 17:12
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Nosso povo carece de políticas públicas voltadas à população pobre, carece de segurança, educação, cultura, respeito, solidariedade e, em casos extremos, de saneamento básico, moradia e comida à mesa. 

Se as diferenças sociais eram enormes, com a pandemia agigantaram ainda mais. Culpa das autoridades? É notório que a falta de iniciativas sociais impactou diretamente no aumento da pobreza e da faixa dos miseráveis. Parece que nosso país vive uma eterna oligarquia. Governa-se para atender a interesses próprios e a uma minoria do empresariado brasileiro. Esse Brasilzão carece de bons exemplos no Poder Público. Nunca houve personalidade política que representasse uma figura emblemática, a alma brasileira. Quem mais próximo chegou desse status foi o jurista Rui Barbosa, o Águia de Haia. Depois, veio Tancredo Neves, que chegou com ares de renovação. Um sopro de esperança que se esvaiu rapidamente. 

Na falta de heróis no cenário político, os artistas e esportistas tomaram o lugar. Cazuza, com sua veia de menino rebelde, expressou essa realidade como ninguém nos versos da canção “Ideologia”: “Meus heróis morreram de overdose / Meus inimigos estão no poder...” O ar zombeteiro de Cazuza brincou com a realidade brasileira. 

Não é por acaso que a morte recente da cantora Marília Mendonça causou comoção nacional. O país parou para acompanhar a tragédia. Os brasileiros pararam para assistirem, ainda incrédulos, a partida de uma mulher tão jovem, com uma vida toda pela frente, no auge da carreira. Foi assim com a morte dos integrantes do grupo musical Mamonas Assassinas, também mortos em desastre de avião.

E ainda em maior escala foi a morte ao vivo de Ayrton Senna, ídolo mundial em tempos que o planeta nem pensava em ser uma aldeia global com o boom da internet. Todos eles representavam a alma brasileira. Eram pessoas carismáticas, que pareciam se importar genuinamente com as pessoas, em suas canções e realizações. Os fãs se sentiam conectados e representados, independentemente do gênero, etnia, orientação sexual ou classe socioeconômica. Eles representavam o Brasil que deu cert bem-sucedidos, famosos, reconhecidos, amados. Marília Mendonça ainda fez mais.

Nenhuma mulher havia sido tão protagonista no cenário da música sertaneja quanto ela. Marília conquistou um espaço próprio. Desbancou os homens. Conquistou fãs em todos os estilos. Falou diretamente para as mulheres e sobre as mulheres, escreveu e cantou suas dores, sacrifícios, conquistas e lutas. Foi assim que a rainha da sofrência se tornou heroína nacional. 

Sonho com o dia em que uma autoridade pública ganhe também o coração do povo brasileiro. Seja homem ou mulher, que simplesmente possamos olhar com admiração e sentir orgulho dele ou dela. Devaneio? Utopia? Pode até ser. Mas não custa sonhar.

Euseli dos Santos

Advogado em Uberaba/MG – OAB (MG) 64.700

Mestre em Direito pela Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp)

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