ARTICULISTAS

Aldrabar o Sistema

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 21/09/2021 às 19:38Atualizado em 18/12/2022 às 15:59
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Entre as muitas pequenas ilusões que compõem nosso dia a dia, está a de que desfrutamos de serviços grátis na internet, apenas para nosso entretenimento. O engraçado é que os abnegados fornecedores dos tais serviços estão milionários. Como se fecha essa equação? Claro que não é nada de graça, apenas não pagamos em dinheiro, seja em papel ou não.

Já há algum tempo ouvimos a máxima, tão recente quanto a onipresença dos aplicativos de interação social: “se você não está pagando nada, o produto é você”. Fomos vendidos!

Mas o que, exatamente, estão a vender? Certamente, não é a nossa pessoa física, nosso corpo, nosso trabalho. Disponibilizam, sim, a quem queira comprar, nossas preferências, emoções e sentimentos, para serem manipulados como melhor sirva aos interesses do comprador. Com isso, começam a aparecer nos nossos aplicativos “sugestões” de produtos sobre os quais estivemos a pesquisar, ou, mais assustador, sobre os quais estivemos a falar com nossos familiares e amigos.

Diversão garantida é confundir o adversário. Objetivo alcançado quando consegui que metade da publicidade de certa rede social a mim “sugerida” seja de dietas carnívoras, e metade de dietas, vegetarianas. Ela não sabe se esta usuária, afinal, só come carne, ou não come nenhuma. Por via das dúvidas, às vezes aparecem sugestões de metodologias de jejum. Missão cumprida.

Para conseguir isso, é necessário sair da bolha e buscar o lado oposto de qualquer tema que se pesquisa. Com isso, evitamos ficar somente pela informação que nos dá conforto emocional. Antes de rejeitar uma ideia, é necessário garantir que a conhecemos, tal como seu mais ardoroso defensor a exprime.

O difícil, hoje em dia, é encontrar essas ideias. Na maior parte das vezes, após pesquisa, aparecem páginas e páginas que nos levam a conteúdos rasos, de cariz infantil. Mais do que apresentar argumentos, limitam-se a satisfazer emoções básicas, reforçando sentimentos tribais primitivos. Algo como um interminável “você é feio”. “Não, você é que é feio”. “Bobo!” E por aí afora.

A quem interessa que se perpetue essa situação? Certamente não aos usuários aqui embaixo, estejam ou não conscientes. Os que já perceberam sabem que precisam e devem sair da bolha. Os que estão satisfeitos, ventilando suas ideias para a mesma meia dúzia de sempre, cedo ou tarde vão discordar de uma “lei”, basta uma, e não vai ser bonito.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova - Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica. [email protected]

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