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Outra nuance da saudade

Ricardo Cavalcante Motta
Publicado em 20/10/2020 às 19:46Atualizado em 18/12/2022 às 10:27
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Disse consternado o anciã "Saudade para mim é palavra proibida." Referia-se à dor pela perda da esposa amada com quem convivera por cinquenta anos. Mas saudade é sentimento doce, daquilo que se tem prazer em recordar. É o sonho invertido. Decorre, portanto, que o senhor estava equivocado na expressão, não se referia propriamente à saudade, que para existir há de ser sentida. Proibida, não acontece. De fato, dizia ele, quanto a dor por sua inestimável perda, do que ressentia lembrar, o oposto da saudade que é do agradável, é do afável. Por isso mergulhei novamente no universo da saudade, impulsionado por aquela frase que chamou minha atenção, até porque esse ano contabilizo trinta anos da perda de minha mãe, de tanto amor, e que tão nova se foi. Dela recordo com saudades todos os dias, sem figuração na expressão. Sentimento que se realça a cada data que se homenageia Santa Maria de tão devota que era. A imediata dor da perda já passou, como de regra tudo passa. Sabemos, o tempo leva a dor, leva a alegria... Mas, como para toda regra há exceção, garanto, se a saudade existir de verdade, pode passar o tempo que for, ela não passará. Algumas recordações permanecem por algum período, ou eventualmente são cogitadas na memória. Isto é história. Não é saudade. A autêntica saudade, sincera, não passa, rebrota como água de mina perene todo dia, constantemente. Não é proibida, é boa. Não fuja, sinta a saudade, sinta saudade!

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