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Setembro Amarelo

Rafael Campos Oliveira Jordão
Publicado em 21/09/2020 às 06:56Atualizado em 18/12/2022 às 09:37
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Nos anos de 1787, Goethe escreveu o livr “O sofrimento do Jovem Werther”. O livro foi um sucesso, e contava a estória de um jovem garoto chamado Werther que ao se apaixonar e não ter o amor correspondido acabava por tirar a própria vida. Acontece que naquela mesma época houve um onda de suicídio na Europa. O que acabou por se tornar um folclore de que o livro era relacionado as mortes.

Na década de 70, David Phillips fez um levantamento dos últimos 20 anos relacionados a notificação de suicídio em mídias nos EUA e Reino Unido, e o que ele verificou foi que sempre que era notificado um caso, aumentava-se os casos naquela região de autoextermínio. A isso Phillips cunhou o nome de “Efeito Werther”.

Isso quer dizer que é proibido a divulgação deste tipo de notícia? Bom não é isso, mas existem diretrizes que a própria Organização Mundial de Saúde sugere quando se pensa em noticiar este assunto. Não romantizar ou descrever em detalhes o fato são sugestões que a OMS orienta. O estudo em si precisaria de um novo levantamento para podemos alegar com maior convicção este efeito.

O fato é que por ano 800 mil pessoas acabam tirando a própria vida. E este é um assunto que é pouco falado. Seja por tabu ou desconhecimento. A vantagem do setembro amarelo é justamente colocar em pauta este assunto. Porque assim como o câncer, que antes nem podia falar esta palavra a mesa do jantar, foi trabalhado em campanhas como outubro rosa. O setembro amarelo veio para auxiliar.

Entre as principais causas de suicídio estão os transtornos de humor, depressão ou bipolaridade. Outro ponto a favor da campanha é discutir estes transtornos que por ignorância de alguns acabam por achar que depressão por exemplo é “moleza”, “falta de capinar um lote”. Se assim o fosse, zonas rurais não teriam tamanha taxa de suicídio.

Como um dos papeis aqui é o de educar, e fugindo um pouco da temática econômica que sempre falamos, aqui vão alguns pontos relacionados a depressão que são importantes:

1-      Ela afeta o humor da pessoa, mas não é o clichê da pessoa chorosa o dia todo. O humor pode ser cíclico. E pode ser comum você passar por uma pessoa do seu trabalho que aparenta estar “bem”, e ela está sofrendo de depressão.

2-      Afeta o corpo, com queda de libido, e aumento da sensibilidade a dor. A energia para fazer as coisas fica difícil, o que faz com que tarefas rotineiras exijam uma força de vontade descomunal.

3-      Talvez a característica mais marcante e pouco falada é a falta de prazer. A pessoa que sofre de depressão costuma ter dificuldade de sentir prazer com coisas que antes eram prazerosas. Comidas que antes eram saborosas, ficar com amigos, ver séries na tv perdem a graça.

4-      Os relacionamentos sociais ficam complicados. Como falado no item anterior, a pessoa pode até querer, mas é difícil. E aqui é uma dica importante para amigos: estejam do lado e sejam pacientes.

Gosto sempre de lembrar que é importante a busca de um profissional. Depressão é coisa séria. E o auxílio de um psicólogo e psiquiatra se mostram fundamentais no enfrentamento desta.

Referência: Phillips, D. P. (1974). The influence of suggestion on suicide: Substantive and theoretical implications of the Werther effect. American sociological review, 340-354.

Rafael Jordão, é psicólogo de formação pela Universidade de Uberaba, possui MBA na área de Economia Comportamental pela ESPM e é mestrando em Psicobiologia na linha de comportamento econômico na USP. Atualmente é psicólogo organizacional na Ebserh. @rafael.jordao

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