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A Escolha no Tempo

Rafael Campos Oliveira Jordão
Publicado em 03/08/2020 às 09:39Atualizado em 18/12/2022 às 08:25
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Se eu oferecesse a) R$100 ou b) R$110 hoje para você seria uma resposta simples e fácil de ter. A segunda opção é melhor já que o valor é maior. Quanto a isso não temos dificuldade de responder. Agora se eu oferecesse R$100 hoje ou R$110 em só daqui 2 meses. Talvez você tivesse uma certa dificuldade. E por quê? Simples, agora temos um novo fator envolvid o tempo.

O tempo é uma variável que está constantemente em nossas escolhas e muitas vezes negligenciamos ele como fator importante de decisão. Para entender a dificuldade de escolher entre algo hoje ou algo daqui 2 meses, devemos entender o que nossa mente faz. Ela possui séria dificuldade de compreender o real valor das coisas quando aquilo não está temporalmente próximo. R$110 daqui 2 meses não é visto exatamente assim, é visto muitas vezes como valendo menos do ponto de vista de hoje. Como assim?

A sua cabeça não enxerga o real valor, o tempo faz as coisas perderem valor no futuro. Porém você não está fazendo essa escolha lá. A escolha é hoje. Resultad Hoje parece ser melhor do que daqui 2 meses. E isso implica em quase tudo na nossa vida.

Se você quer emagrecer deve entender que há duas coisas em jog o valor do bolo que está na sua frente e o valor de perder o peso daqui 2 meses. Se fossem colocados lado a lado no dia de hoje a escolha seria fácil, mas não é assim que funciona. Você deve comparar o valor do bolo hoje com perder peso daqui 2 meses. O resultado é que o valor percebido no futuro se for menor que o do bolo, você come o bolo.

É por isso que cartão de crédito para comprar por impulso é tão efetivo. Você tem o benefício imediato, recebe o bem e o serviço na hora, mas só paga daqui 1 mês. Lembre-se que você não enxerga o valor real daqui um mês, e sim um valor reduzido por conta do tempo, pagar no futuro parece mais barato para o bem de hoje. Para melhor exemplificar, se uma pessoa é mais impulsiva tende a desvalorizar muito o valor futuro das coisas, é como se os R$110 reais daqui 2 meses fosse visto como R$80.

Fazer o isolamento é algo que não tem um valor muito alto para nós, é chato, muitas vezes monótono e muitas pessoas estão em dificuldade por conta disso, porém é justificado por um valor muito maior no futuro de podermos nos encontrarmos de forma segura e tranquila. A vontade de furar a quarentena hoje é constantemente confrontada com o churrasco com os amigos quando tudo isso acabar. Se o valor de algo hoje é visto como maior, furamos a quarentena.

Assim, é importante entender que esse mecanismo existe para não pregarmos peças em nós mesmos. Os R$110 no futuro serão exatamente os mesmos, só temos que ser pacientes e esperar para recebê-lo. Da mesma forma que uma conta alta no cartão pode acabar chegando, um benefício maior pode estar aguardando para chegar também.

Rafael Jordão, é psicólogo de formação pela Universidade de Uberaba, possui MBA na área de Economia Comportamental pela ESPM e é mestrando em Psicobiologia na linha de comportamento econômico na USP. Atualmente é psicólogo organizacional na Ebserh. @rafael.jordao

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